domingo, 27 de novembro de 2016

84 Anos do Manifesto de Outubro (2016)

Registro fotográfico da concentração Integralista, em Blumenau - SC, durante as comemorações do dia da bandeira, em 19 de novembro de 1937. Milhares de pessoas de norte à sul do país aderiram aos princípios do Manifesto de Outubro de 1932.
Há exatos oitenta e quatro anos, mais precisamente a 7 de outubro de 1932, foi lançado, na cidade de São Paulo, o chamado Manifesto de Outubro, que se constitui num dos mais importantes documentos de toda a História Pátria e num repositório da mais pura Brasilidade. Nas linhas que se seguem, trataremos deste documento tão significativo da História da nossa Terra de Santa Cruz, sobre o qual os inimigos da Nacionalidade criminosamente ergueram um alto muro de silêncio, não menos alto, aliás, que o muro que esses mesmos indivíduos erigiram sobre o nome do autor do aludido Manifesto, o grande e injustiçado pensador, escritor e doutrinador político brasileiro Plínio Salgado.

Inspirado, antes e acima de tudo, nos ensinamento perenes do Evangelho, na Doutrina Social da Igreja e nas preleções dos grandes pensadores cristãos, espiritualistas e nacionalistas patrícios, o Manifesto de Outubro foi redigido por Plínio Salgado e lido por este no Teatro Municipal de São Paulo a 07 de Outubro de 1932, data em que foi também distribuído na Capital Paulista e remetido para diversas províncias brasileiras, por este motivo tendo ficado conhecido como Manifesto de Outubro, a despeito de haver sido escrito em maio e aprovado em junho daquele ano pela Sociedade de Estudos Políticos (SEP).

Fundada aos 12 dias do mês de março daquele ano de 1932, no Salão de Armas do Clube Português, na Capital Bandeirante, por um grupo de intelectuais encabeçado pelo próprio Plínio Salgado, a SEP foi um núcleo de grande relevo, voltado, antes de tudo, à meditação sobre a problemática política e social brasileira. Seus nove princípios básicos, redigidos por Plínio Salgado e por este lidos durante a sessão inaugural da referida Sociedade, são:

- Somos pela unidadade da Nação.

- Somos pela expressão de todas as suas forças produtoras no Estado.- Somos pela implantação do princípio da autoridade, desde que ele traduza forças reais e diretas dos agentes da produção material, intelectual e da expressão moral do nosso povo.



 - Somos pela consulta das tradições históricas e das circunstâncias geográficas, climatéricas e econômicas que distinguem nosso País.

- Somos por um programa de coordenação de todas as classes produtoras.

- Somos por um ideal de justiça humana, que realize o máximo de aproveitamento dos meios de produção, em benefício de todos, sem atentar contra o princípio da propriedade, ferido tanto pelo socialismo, como pelo democratismo, nas expressões que aquele dá à coletividade e este ao indivíduo.

- Somos contrários a toda tirania exercida pelo Estado contra o Indivíduo e as suas projeções morais; somos contra a tirania dos Indivíduos contra a ação do Estado e os superiores interesses da Nação.

- Somos contrários a todas as doutrinas que pretendem criar privilégios de raças, de classes, de indivíduos, grupos financeiros ou partidários, mantenedores de oligarquias econômicas ou políticas.

- Somos pela afirmação do pensamento político brasileiro baseado nas realidades da terra, nas circunstâncias do mundo contemporâneo, nas superiores finalidades do Homem e no aproveitamento das conquistas científicas e técnicas do nosso século.[1]

Isto posto, cumpre salientar que, ao fundar esse importante núcleo de estudos da realidade, do pensamento e dos problemas pátrios que foi a SEP, era já Plínio Salgado um consagrado escritor, jornalista e político. Seu primeiro romance, O estrangeiro (1926), primeiro romance social em prosa modernista do País e maior poema em prosa do Modernismo Brasileiro, tivera um grande sucesso de público e de crítica, merecendo elogios de escritores e críticos literários da estirpe de Jackson de Figueiredo, Agripino Grieco, Tristão de Athayde (Alceu Amoroso Lima), Monteiro Lobato, José Américo de Almeida, Tasso da Silveira, Afrânio Peixoto, Augusto Frederico Schmidt, Rodrigues de Abreu, Nuto Sant’Ana, Francisco Pati, Brito Broca, Menotti Del Picchia e Cassiano Ricardo, dentre outros. Seu segundo romance, O esperado (1931), também tivera bastante sucesso, ainda que menor do que aquele de O estrangeiro. Como jornalista, fora redator dos diários  A Gazeta e Correio Paulistano, ambos de São Paulo, colaborara em diversos jornais e revistas e fora redator-chefe do matutino A Razão, também da Capital Paulista. Em seu artigo diário de abertura neste último periódico, intitulado Nota Política e transcrito no jornal Era Nova, da Bahia, e em jornais do Ceará,[2] revelara, no dizer de Virgínio Santa Rosa, o sociólogo que vivia embuçado no romancista, sendo saudado por Tristão de Athayde como a maior revelação do ano (de 1931),[3] além de haver despertado diversos jovens para o estudo da realidade nacional e dos pensadores brasileiros. Em 1928 fora eleito Deputado Estadual em São Paulo pelo Partido Republicano Paulista, entrando pelo 2° turno e sendo o candidato mais votado,[4] e em 1930 redigira o manifesto que no ano seguinte (1931) seria entregue à Legião Revolucionária de São Paulo,[5] que o adotaria, ainda que logo mais se desviasse de suas diretrizes.

A despeito de o Manifesto entregue por Plínio Salgado à Legião Revolucionária de São Paulo, que recebera justíssimos elogios de intelectuais como Oliveira Vianna e Octavio de Faria, poder ser já plenamente considerado um manifesto integralista e de o próprio Plínio Salgado mais tarde haver afirmado que o romance O estrangeiro havia sido seu “primeiro manifesto integralista”,[6] foi o Manifesto de Outubro, incontestavelmente, o primeiro manifesto oficialmente integralista do Brasil. Sua mensagem, essencialmente cristã, brasileira, democrática na acepção integral e orgânica do termo e revolucionária no sentido tradicional e astronômico do vocábulo, espalhou-se, com grande rapidez, por todas as províncias componentes deste vasto Império, logo se reunindo, à sombra da bandeira azul e branca do Sigma, centenas de milhares de soldados de Deus, da Pátria e da Família, bandeirantes do Brasil Profundo e de sua Tradição Integral e sentinelas, sempre alertas e vigilantes, da Imperial Nação Brasileira. Estas sentinelas eram homens e mulheres de todos os segmentos da Sociedade, desde os mais humildes caboclos dos mais remotos rincões da Pátria até os mais ilustres componentes da mais fina flor da intelectualidade nacional, “Bandeirantes do Espírito”, na expressão de Genésio Pereira Filho,[7] que constituíram a “poderosa geração integralista” de que nos fala Gumercindo Rocha Dorea.[8]

Inspirado, em larga medida, nos ensinamentos do Manifesto de Outubro, sua Carta Magna, o Integralismo realizou, na década de 1930, por meio de seu principal instrumento, a Ação Integralista Brasileira, como enfatiza Plínio Salgado, em O Integralismo na vida brasileira, a maior obra cívica e cultural da História Pátria. Com efeito, o Integralismo ensinou dezenas de milhares de brasileiros a cantar o Hino Nacional; levou multidões para ver e aplaudir os desfiles do Exército e da Marinha; promoveu o respeito às datas históricas e aos heróis nacionais; realizou imponentes homenagens a muitos dos mais notáveis vultos da nossa História; fundou milhares de escolas de alfabetização para crianças e adultos e de ambulatórios médicos; editou dezenas de livros e outras tantas dezenas de jornais e revistas; criou milhares de bibliotecas e organizou cursos de História do Brasil, Geografia, Instrução Moral e Cívica, Filosofia, Economia Política e Direito Público; realizou exposições, concertos e cursos de Cultura Artística e, antes e acima de tudo, nas palavras de Plínio Salgado, “arregimentou a infância e a adolescência, incutindo-lhes entusiasmo pelos nobres ideais, formando-lhes os corações segundo a doutrina do Evangelho, incendiando-as num surto de patriotismo” como nem antes nem depois da AIB se viu semelhante em nosso País.[9]

O Manifesto de Outubro, de magna e profunda relevância para a História Nacional e de impressionante atualidade, se constitui na mais perfeita síntese daquilo que foi construído pelos pensadores, escritores e estadistas patrícios até o ano de 1932 e na igualmente perfeita síntese da vigorosa e sadia Doutrina Integralista, autêntico exemplo do mais lídimo “idealismo orgânico” de que nos fala Oliveira Vianna e que vem a ser o idealismo realista e tradicionalista, formado tão somente de realidade, alicerçado tão somente na experiência e orientado tão somente pela observação do povo e do meio,[10] ou, noutras palavras, o idealismo consciente de que as instituições devem brotar da Tradição e da História dos povos e não da cabeça de ideólogos criadores de mitos e quimeras, o idealismo, enfim, que extrai da História uma Tradição sólida e viva, um coeficiente espiritual de edificação moral, social e cívica, um desenvolvimento estável e verdadeiro, transmissor e enriquecedor do patrimônio de pensamento e de costumes por nós herdado de nossos maiores.[11]

Reflete, pois, o Manifesto de Outubro, como sublinhamos algures,[12]a Tradição Integral da Nação Brasileira, trazendo soluções nacionais para os problemas nacionais, e isto em um País em que já desde o Império as elites quase nada mais faziam do que transplantar ideias e soluções estrangeiras, geralmente utópicas mesmo nos países em que haviam sido inicialmente propostas, e totalmente alheias à nossa Tradição, aos nossos costumes, à nossa Identidade Nacional. Isto porque Plínio Salgado tinha plena consciência de que, consoante preleciona Eduardo Prado, em A ilusão americana, as sociedades devem ser regidas por leis emanadas de sua estirpe, de sua História, de seu caráter, de seu desenvolvimento orgânico.[13]

Plínio Salgado também tinha plena consciência, como igualmente sublinhamos,[14] de que, como faz ver Oliveira Vianna, no prefácio à primeira edição da obra O idealismo da Constituição, de 1927, “se, ontem como agora, o problema da democracia no Brasil tem sido mal posto, é porque tem sido posto à maneira inglesa, à maneira francesa, à maneira americana; mas, nunca, à maneira brasileira”.[15] Daí o então futuro autor de Espírito da burguesia e da Vida de Jesus propor, naquele documento histórico, um modelo orgânico e autenticamente brasileiro de Democracia, que, conforme assinala Gustavo Barroso, se inspira profundamente nas lições políticas de Santo Tomás de Aquino,[16] o Doutor Angélico.

As não muitas porém densas páginas do Manifesto de Outubro, estuantes de Cristianismo e de Brasilidade, refletem os mais nobres valores, costumes e tradições pátrios e a mais genuína Doutrina Social Cristã, a um só tempo anti-individualista e anticoletivista, anitiliberal e antitotalitária, e sintetizam, como há pouco sublinhamos, toda a Doutrina Integralista, depois de seu surgimento desenvolvida em diversos livros, manifestos, artigos publicados em jornais e revistas e discursos de Plínio Salgado e de outros vultos do Movimento Integralista. Em tais páginas estão presentes, por exemplo, as ideias seguintes, centrais na Doutrina do Sigma: Afirmação da existência de Deus e da Alma Imortal do Homem; Concepção Integral do Universo e do Ente Humano; Patriotismo; Nacionalismo Integral, justo, equilibrado, sadio e edificador, alicerçado na Tradição e tendente ao autêntico Universalismo, que não pode ser confundido com o internacionalismo liberal ou comunista; defesa da Família, cellula mater da Sociedade, e do Município, cellula mater da Nação; respeito à Tradição Nacional; combate sem tréguas ao comunismo e ao liberal-capitalismo internacional; guerra sem quartel ao cosmopolitismo; Sustentação da Harmonia e da Justiça Social; restauração dos princípios de Autoridade, Hierarquia e Disciplina; pugna sem tréguas contra o racismo e em prol da valorização do nosso povo e das nossas tradições, assim como dos pensadores e escritores nacionais; luta pela construção de uma Democracia Integral e de um Estado Ético Orgânico Integral Cristão, instrumento da Nação, do Homem do Bem Comum.

O primeiro artigo do Manifesto de Outubro trata da concepção integral do Universo e do Homem, afirmando que “Deus dirige o destino dos povos”; que o Homem, ente dotado de vocação sobrenatural, “deve praticar sobre a terra as virtudes que o elevam e aperfeiçoam”, valendo pelo trabalho e pelo sacrifício em prol da Família, da Pátria e da Sociedade, assim como pelo estudo, inteligência e honestidade e pelo progresso científico, técnico e artístico “tendo por fim o bem estar da Nação e o elevamento moral das pessoas”; que as riquezas são bens meramente passageiros, não engrandecendo a ninguém, ao menos que seus detentores cumpram os deveres que lhes são impostos em benefício da Pátria e da Sociedade, e que os homens, assim como as classes, “podem e devem viver em harmonia”.[17]

Como observa Plínio Salgado em O Integralismo na vida brasileira, obra que se constitui no primeiro volume da Enciclopédia do Integralismo, organizada por Gumercindo Rocha Dorea e por ele entre fins da década de 1950 e princípios da década de 1960, neste primeiro capítulo do Manifesto de Outubro se encontra a influência de Farias Brito, quando este, no livro A verdade como regras das ações, demonstra que não podem existir normas morais sem que preliminarmente adotemos uma precisa noção da origem e da finalidade da Pessoa Humana. Ainda segundo Plínio Salgado, tal capítulo reconduz os valores morais ao lugar superior de onde foram arrancados pelo materialismo moderno, e defende “o direito às legítimas aspirações de cada um e de todos, pela prática da fraternidade cristã e da justiça, que emana dos corações à luz de uma consciência conhecedora das leis de Deus”, se constituindo em uma proclamação de direitos da Pessoa Humana, “não segundo o critério agnóstico-naturalista de Rousseau, mas segundo a filiação comum dos homens em Deus”.[18]

No segundo artigo do Manifesto de Outubro, Plínio Salgado sustenta a Democracia Orgânica, ou Democracia Integral, consagrando o princípio democrático da representação política dos trabalhadores de acordo com suas categorias profissionais,[19] sistema este que está plenamente de acordo com a Doutrina Social da Igreja, conformando-se plenamente com as lições, no campo social, de todos os Sumos Pontífices a partir de Pio IX e Leão XIII.[20]

No artigo terceiro, chamado O Princípio de Autoridade, defende-se a restauração do princípio de Autoridade,[21] entendida como pressuposto da autêntica Liberdade, nele podendo ser sentida, nas palavras do autor do Manifesto de Outubro, “a presença de Jackson de Figueiredo, nas suas campanhas pela restauração do princípio de autoridade, sem a qual a liberdade dos maus, dos traficantes e dos imorais tripudiará sobre os direitos dos bons, dos honestos e virtuosos”.[22]

No artigo quarto do Manifesto de Outubro, que trata do nacionalismo, podemos perceber que Plínio Salgado está plenamente de acordo com Alberto Torres, que, na obra O problema nacional brasileiro, defende o autêntico nacionalismo, combatendo o cosmopolitismo e a influência estrangeira, assim como os absurdos e nefastos preconceitos étnicos, que levaram muitos brasileiros a amesquinhar os elementos formadores da Nacionalidade, assim como aqueles que posteriormente nela se estabeleceram.[23] Consoante ressalta Plínio Salgado,

Nesse capítulo 4º, palpitante de brasilidade, como que se ouvem os clarins de Olavo Bilac na sua memorável campanha cívica; as vozes de Alencar e de Gonçalves Dias, repetindo os ecos da selva; o clangorar das inúbias na obra de Couto de Magalhães; a simpatia humana de Joaquim Nabuco por aqueles que ele ajudou a libertar da escravidão; o nobre orgulho da estirpe lusitana, que ilumina as páginas de Elísio de Carvalho; a alma do sertanejo, presente nos “Sertões” de Euclides da Cunha; o sentido do tradicionalismo flagrante em Oliveira Lima e Eduardo Prado; o entusiasmo patriótico do Conde de Afonso Celso.[24].

No artigo quinto do Manifesto Integralista de 07 de Outubro de 1932, Plínio Salgado condena o regionalismo excessivo e o exclusivismo da política estadual em detrimento da política nacional, colocando-se contra os “partidarismos egoístas”, a luta de classes e o caudilhismo.[25] Tal artigo está, nas palavras do seu próprio autor, repleto “da alma de Caxias, do sentido da Unidade Nacional pela qual lutou o Condestável do Império, do sentimento sempre presente em nossas Forças Armadas, da ordem interna como base da defesa externa,” se erguendo contra “o exclusivismo da política provinciana em detrimento da grande política da Nacionalidade”.[26]

No sexto artigo do Manifesto ora em apreço, Plínio Salgado condena veementemente as conspirações carentes de objetivos doutrinários, as revoluções sem programas,[27] proclamando que o Integralismo é a “Revolução em marcha”, porém “a Revolução com ideias”, sendo, portanto, “franca, leal e corajosa”.[28]

O artigo sétimo do Manifesto de Outubro trata da questão social tal como a considera o Integralismo, sob visível influência da Doutrina Social da Igreja e das ideias de pensadores brasileiros como Pandiá Calógeras e o Rui Barbosa dos últimos anos de vida, ideias estas inspiradas, aliás, principalmente na Encíclica Rerum novarum, de Leão XIII, e na obra do Cardeal Mercier.[29] Em tal artigo, Plínio Salgado, entendendo a propriedade como trabalho acumulado e projeção física da personalidade humana[30] e condenando a “escravidão comunista” e o liberal-capitalismo, sustenta o direito natural de propriedade, contra o qual atenta o sistema econômico liberal-capitalista, e defende, ainda, as justas reivindicações dos trabalhadores, que deveriam perceber “salários adequados às suas necessidades”, participar dos lucros das empresas “conforme seu esforço e capacidade” e tomar parte nas decisões governamentais.[31]

O artigo oitavo do Manifesto Integralista de 07 de Outubro, por sua vez, defende a Família, cellula mater da Sociedade e primeiro dos Grupos Naturais, que, assim como o Homem, precederam o Estado, que tem o dever de respeitar sua intangibilidade, necessitando ser forte justamente para manter a integridade do Homem e da Família.[32]

O artigo nono do Manifesto de Outubro sustenta o Municipalismo, com base, antes de tudo, nos ensinamentos dos constitucionalistas do Primeiro Reinado e nas observações, já no período republicano, de homens como Gama Rodrigues, ao lado de quem Plínio Salgado fundara, em fins da década de 1910, o Partido Municipalista, e Domingos Jaguaribe,[33] a quem o autor de O estrangeiro considerava o “patriarca do Municipalismo”.[34] Neste artigo, o autor de O estrangeiro e O esperado afirma que o Município, cellula mater da Nação, é uma reunião de pessoas livres e de famílias autônomas, devendo ser autônomo em tudo aquilo que diz respeito a seus interesses peculiares.[35]

Por fim, o artigo décimo do Manifesto de Outubro é, na expressão de Plínio Salgado, a “síntese nacionalista do Estado Cristão, o resumo da democracia orgânica”. Nele são traçados

os grandes lineamentos da expressão e do prestígio internacional da Pátria Brasileira. Vive ali o espírito de Alexandre de Gusmão e do Barão do Rio Branco; os sonhos de D. João Terceiro e do Conde de Bobadela e de D. João VI; a firmeza de José Bonifácio na construção da nossa unidade e da nossa grandeza; a ação de Pedro Segundo e do Duque de Caxias na consolidação desse patrimônio.[36]

Baseado na concepção integral do Universo e da Pessoa Humana, o Estado Integral tem como princípios fundamentais o respeito ao Direito Natural e à intangibilidade do Ente Humano, de seu Livre-arbítrio e dos Grupos Naturais, que são anteriores ao Estado e fornecem ao Homem os meios necessários à expressão de sua autonomia,[37] cumprindo salientar que, como pondera Plínio Salgado, a Pessoa Humana é dotada de direitos naturais, que lhe são congênitos, decorrendo, pois, não do Estado, mas de sua própria essência, não podendo, assim, ser negados pelo Estado e suas leis.[38]

Conforme salientamos há exatamente quatro anos, por ocasião do octogésimo aniversário do Manifesto de Outubro,[39] este tão injustamente olvidado Manifesto e o tão caluniado e mesmo demonizado Integralismo, movimento sobre o qual se criou uma verdadeira leyenda negra ainda não de todo destruída, desempenharam papel de grande relevância na vida cultural, política e social do nosso Brasil, relevância esta muito bem sintetizada por Plínio Salgado nas páginas de O Integralismo na vida brasileira e que é por nós assaz conhecida, do mesmo modo que os nomes dos diversos pensadores, escritores, juristas, jornalistas, médicos, professores, políticos, sociólogos e historiadores que vestiram a Camisa-Verde Integralista e muito contribuíram, em suas respectivas áreas, para o engrandecimento e enobrecimento da Nação Brasileira. Em virtude disto, julgamos não ser necessário discorrer aqui a respeito de tais assuntos. Salientemos, pois, apenas, que o Integralismo não foi tão somente o primeiro “movimento de massas” do Brasil e que a AIB (Ação Integralista Brasileira) não foi unicamente a primeira agremiação política de amplitude nacional desde o ocaso do Império, mas que tal movimento e tal organização foram – e tal movimento ainda é -, como afirmamos algures, uma admirável escola de Moralidade, Civismo, Patriotismo e Nacionalismo construtivo, assim como um possante foco de irradiação, inexpugnável cidadela e vigilante atalaia do Brasil Profundo, Autêntico e Verdadeiro.[40]

Com efeito, o Integralismo, que é, como aduz Gustavo Barroso, “uma Ação Social, um Movimento de Renovação Nacional em todos os pontos e em todos os sentidos”, pregando “uma doutrina de renovação política, econômica, financeira, cultural e moral”,[41] tendo como lema a tríade “Deus, Pátria e Família”, “grandiosa como nenhuma outra”, na expressão de Afonso de Escragnolle Taunay,[42] reuniu, no dizer de Miguel Reale, “o que havia de mais fino na intelectualidade da época”,[43] se constituindo, segundo Gerardo Mello Mourão, no “mais fascinante grupo da inteligência do País”.[44] No mesmo sentido, poderíamos citar as palavras do liberal e, portanto, insuspeito Roberto Campos, que, em suas memórias, ao falar de San Tiago Dantas, evoca “o surpreendente fascínio que o Integralismo exerceu em sua geração, particularmente sobre a parte mais intelectualizada”[45], assim como as palavras do também liberal e insuspeito Pedro Calmon, que, na biografia de seu pai, Miguel Calmon, observa que a plêiade de intelectuais reunida pelo Integralismo “poderia lotar uma Academia, em vez de ocupar uma trincheira”[46]. Aliás, devemos dizer que Pedro Calmon se equivocou, pois a plêiade de intelectuais que a Doutrina do Sigma reuniu, na década de 1930, em torno da bandeira azul e branca, e que bem podemos denominar a falange dos “homens de mil” do Integralismo, daria para encher não apenas uma, mas várias academias.

Ainda neste diapasão, salienta Acacio Vaz de Lima Filho que o Integralismo reuniu, na década de 1930, “o que havia de mais bela na juventude brasileira em termos de ideal”, bem como “a fina flor da intelectualidade nacional”, intelectualidade esta que, rompendo com a tradição de servil imitação dos modelos estrangeiros, voltou-se “para o Brasil, e para as mais profundas raízes da brasilidade”.[47]

As palavras de Acacio Vaz de Lima Filho que acabamos de citar se encontram no belo prefácio que este escreveu para a obra “Existe um pensamento político brasileiro?”, Existe, sim, Raymundo Faoro: o Integralismo!: Uma nova geração analisa e interpreta o Manifesto de Outubro de 1932 de Plínio Salgado, que, organizada por Gumercindo Rocha Dorea e por este editada em 2015, reúne ao aludido Manifestouma série de textos, quase todos escritos por jovens, comentando cada um dos artigos daquele tão relevante quanto criminosamente olvidado documento da História Pátria.

Como evocamos na “orelha” do mencionado livro, ao saudar Plínio Salgado, por ocasião de uma conferência que este realizou na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 3 de agosto de 1953, o Professor Heraldo Barbuy, egrégio filósofo, sociólogo e escritor paulista, examinando a obra de Plínio Salgado como escritor, pensador e homem de ação, observou que a Doutrina Pliniana se tornara, então, mais do que nunca, necessária por firmar os verdadeiros conceitos do Homem, da Sociedade e do Estado, e terminou seu discurso exaltando a tenacidade, a coerência e a capacidade de sacrifício de Plínio Salgado, sustentando seu nobre e límpido pensamento em meio às injustiças e incompreensões.[48]

Ainda como escrevemos na “orelha” do aludido livro, na hora presente, ainda muito mais do que em 1953, é necessária a Doutrina Pliniana para o nosso Brasil e para todo o Mundo e a leitura do Manifesto de Outubro confirmará isto a todas as pessoas intelectualmente honestas que a fizerem.

Como igualmente assinalamos na “orelha” da mencionada obra, a leitura do Manifesto de Outubro, dos textos sobre seus artigos enfeixados naquele volume e do magnífico prefácio daquele livro, escrito, como há pouco observamos, pelo Professor Acacio Vaz de Lima Filho, outro incansável combatente em prol dos elevados valores consubstanciados na tríade “Deus, Pátria e Família”, demonstrará não apenas o quanto as doutrinas de Plínio Salgado e do Integralismo são necessárias, na hora que passa, assim como no futuro, para o Brasil e o Mundo, mas também a nobreza e perfeição de tais doutrinas, tão injustiçadas pelos inimigos de Deus, da Pátria e da Família quanto o próprio Plínio Salgado, “esse injustiçado”, nas justas palavras de Pedro Paulo Filho, inspirado poeta, memorialista e historiador de Campos do Jordão.[49]

Sobre Plínio Salgado, “o mais eloquente intérprete da Brasilidade”, na frase de Hipólito Raposo,[50] assim como o “profeta incandescente e sublime de seu povo”, a “encarnação viva do Brasil melhor”[51] e o “descobridor bandeirante das essências de sua pátria”,[52] no dizer de Francisco Elías de Tejada, e o “cavaleiro do Brasil Integral”, na expressão de Ribeiro Couto,[53] fazemos nossas as seguintes palavras que sobre esse bandeirante e arauto de um Brasil Maior escreveu, no livro há pouco citado, o jovem pensador Fernando Rodrigues Batista, ilustre filho do Paraná:

Em certa medida somos todos devedores destes grandes homens que, na história do pensamento e da política dos povos, não se contentando em passar por ela apenas como espectadores medíocres, nela se projetam como portadores de ideias destinadas a perpetuar-se no tempo através de sucessivas gerações que transmitem sua mensagem luminosa com entusiasmo sempre renovado, pois que esta mensagem traz em seu bojo a própria alma de seu povo, de sua nação, de sua história, através da tradição. Dentre estes homens, Plínio Salgado figura em lugar de honra, sobremodo para nós que no alvorecer da mocidade, em meio a desordem moral e intelectual, nos deixamos iluminar pelo fogo do ideal deste exímio pensador.[54]

Enquanto houver este Império por nome de Brasil, o fogo do ideal cristão, tradicionalista, patriótico e sadia e vigorosamente nacionalista de Plínio Salgado fulgirá com acentuado brilho, como um magno farol no seio da treva da noite que atravessamos. E estamos certos de que seu apostolado e sua peleja por Cristo Rei e pela Nação serão cada vez mais reconhecidos e que este varão justo e sábio será sempre evocado por todos os legítimos patriotas patrícios como um dos máximos vultos do pensamento tradicional cristão, brasileiro, lusíada e hispânico e, sobretudo, como um dos maiores brasileiros de todos os tempos e a encarnação viva do Brasil Profundo, Autêntico e Verdadeiro.

Já nos havendo estendido mais do que inicialmente planejamos, reputamos oportuno encerrar aqui o presente artigo, ressaltando que o Manifesto de Outubro, síntese por excelência da Doutrina profundamente cristã e brasileira do Integralismo, vanguarda da Nação Profunda e de sua Tradição, se configura em um altaneiro e eloquente brado em prol da edificação de um Brasil Grande e Renovado, restituído a sua augusta missão histórica, herdada de Portugal, de dilatar a Fé e o Império. Tal documento, repositório do mais sadio, vigoroso, rigoroso e edificante nacionalismo e leitura obrigatória a todos aqueles que pretendem se tornar autênticos guerreiros de Deus, da Pátria, da Família e de todos os valores tradicionais consubstanciados em tal tríade, tal documento, enfim, em que se pode sentir o palpitar do Brasil Autêntico e se sentem os perfumes da Terra Brasileira, se configura na sementeira da Pátria Nova com que sonhamos, com os pés no chão, todos os autênticos e verdadeiros idealistas orgânicos. Neste octogésimo terceiro aniversário do “nosso Manifesto”, como, aliás, o chamou o Professor Goffredo Telles Junior, pouco antes de seu falecimento, em conversa telefônica com o Professor Acacio Vaz de Lima Filho, rogamos, uma vez mais, a Deus, Criador e Regente do Universo e do Homem, que suscite, no nosso Brasil, varões de espírito nobre e guerreiro dispostos a marchar pelo fogo e pelas ruínas, sacrificando, se necessário, as próprias vidas, sem nada pedir em troca, em nome dos princípios resumidos no Manifesto de Outubro, lídima expressão do autêntico Espírito Nobre e carta de princípios que deve ser tomada em consideração por todo aquele que tem consciência de que é com base na autêntica Tradição Nacional e no autêntico pensamento nacional brasileiro que devemos estruturar as nossas instituições políticas.

Por Cristo e pela Nação!

Victor Emanuel Vilela Barbuy,
Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira,
São Paulo, 07 de outubro de 2016-LXXXIV.

O presente artigo se constitui, numa versão revista, atualizada e ampliada de nosso artigo 83 anos do Manifesto de Outubro, disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=356#.V_cH_iSH7IU . Este último artigo, por sua vez, é, em última análise, uma versão revista, atualizada e largamente ampliada do artigo 82 anos do Manifesto de Outubro, também de nossa lavra e disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=312#.VhVpfPlViko.

Notas:
[1] In VV.AA., Plínio Salgado, 4ª edição, São Paulo, Edição da Revista Panorama, 1937, p. 35.
[2] Cf. Plínio SALGADO, O Integralismo na vida brasileira, in Enciclopédia do Integralismo, vol. I, Rio de Janeiro, Edições GRD/Livraria Clássica Brasileira, s/d, p. 15.
[3] A personalidade de Plínio Salgado, in VV.AA., Plínio Salgado, 4ª edição, São Paulo, Companhia Editora Panorama, 1937, p. 73.
[4] Cf. Maria Amélia Salgado LOUREIRO, Plínio Salgado, meu pai, São Paulo, Edições GRD, 2001, p.154.
[5] Manifesto da Legião Revolucionária de São Paulo, in Antônio Carlos PEREIRA, Folha dobrada: documento e história do povo paulista em 1932, São Paulo, O Estado de S. Paulo, 1982, pp. 517-525.
[6] Despertemos a Nação, 1ª edição, Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1935, p. 5.
[7] Palavras iniciais, in Plínio SALGADO, Extremismo e Democracia, 1ª edição, São Paulo, Editorial Guanumby, s/d, p. 8.
[8] Recado a um ex-presidente da República, ex-ministro, ex-senador; ex-professor universitário e que, hoje, amplia e revitaliza os “quadros” dos remanescentes caluniadores do Integralismo [Fernando Henrique Carodoso], in Gumercindo Rocha DOREA (Organizador), “Existe um pensamento político brasileiro?”, Existe, sim, Raymundo Faoro: o Integralismo!: uma nova geração analisa e interpreta o Manifesto de Outubro de 1932 de Plínio Salgado, São Paulo, Edições GRD,  p. XI.
[9] O Integralismo na vida brasileira, cit., pp. 37-38
[10] O idealismo da Constituição,2ª edição, aumentada, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1939, pp. 12-13.
[11] Cf. Victor Emanuel Vilela BARBUY, Idealismo utópico e idealismo orgânico (Comunicação apresentada no III Simpósio de Filologia e Cultura Latino-Americana, promovido pelo PROLAM/USP e pelo Núcleo de Pesquisa “América” e realizado nos dias 28, 29 e 30 de novembro de 2011, na sala de videoconferências de Filosofia e Ciências Sociais, na Cidade Universitária, em São Paulo). Disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=137. Acesso em 07 de outubro de 2016.
[12] 79 anos do Manifesto de Outubro. Disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=125. Acesso em 07 de outubro de 2016.
[13] A ilusão americana, 2ª edição, Prefácio de Augusto Frederico Schmidt, Rio de Janeiro, Livraria Civilização Brasileira S.A., 1933, p. 60.
[14] 79 anos do Manifesto de Outubro, cit.
[15] O idealismo da Constituição, 1ª edição, Rio de Janeiro, Edição de Terra de Sol, 1927, p. 13.
[16] Comunismo, Cristianismo e Corporativismo, Rio de Janeiro, Empresa Editora ABC Ltda., 1938, p. 98.
[17] Cf. Plínio Salgado, Manifesto de Outubro de 1932, in Sei que vou por aqui!, n. 2, São Paulo, setembro-dezembro de 2004, p. V.
[18] O Integralismo na vida brasileira, cit., p. 23.
[19] Manifesto de Outubro de 1932, cit., p. V.
[20] O Integralismo na vida brasileira, cit., p. 24.
[21] Manifesto de Outubro de 1932, cit., loc. cit.
[22] O Integralismo na vida brasileira, cit., p. 25.
[23] Idem, loc. cit.
[24] Idem, p. 26.
[25] Manifesto de Outubro de 1932, cit., p. VIII.
[26] O Integralismo na vida brasileira, cit., loc. cit.
[27]Idem, loc. cit.
[28] Manifesto de Outubro de 1932, cit., p. IX.
[29] O Integralismo na vida brasileira, cit., p. 27.
[30] Idem, loc. cit.
[31] Manifesto de Outubro de 1932, cit., pp. IX-X.
[32] Idem, pp. X-XI; O Integralismo na vida brasileira, cit., pp. 27-28.
[33] O Integralismo na vida brasileira, cit., p. 28.
[34] Apud Pedro PAULO FILHO, Campos do Jordão, o presente passado a limpo, São José dos Campos, Vertente, 1997, p. 70.
[35] Manifesto de Outubro de 1932, cit., p. XI.
[36] O Integralismo na vida brasileira, cit., p. 29.
[37] Cf. Victor Emanuel Vilela BARBUY, O Estado Integralista, in Gumercindo Rocha DOREA (Organizador), “Existe um pensamento político brasileiro?”, Existe, sim, Raymundo Faoro: o Integralismo!: uma nova geração analisa e interpreta o Manifesto de Outubro de 1932 de Plínio Salgado, São Paulo, Edições GRD,  p. 239.
[38] Carta de Princípios do Partido de Representação Popular, Porto Alegre, Edição do Comitê de Propaganda pró Candidatura de Plínio Salgado, 1955, p. 3.
[39]80 anos do Manifesto de Outubro, cit.
[40] 79 anos do Manifesto de Outubro, cit.
[41] O que o Integralista deve saber, 5ª edição, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, S.A, 1937, pp. 09-10.
[42] Algumas palavras, in, Lúcio José dos SANTOS, Filosofia, Pedagogia, Religião, São Paulo, Companhia Melhoramentos, 1936, p. 7.
[43] Entrevista concedida ao Jornal da USP.  Disponível em:http://espacoculturalmiguelreale.blogspot.com/2007/08/entrevista-concedida-pelo-prof-reale-ao.html. Acesso em 07 de outubro de 2014.
[44] Entrevista concedida ao Diário do Nordeste. Disponível em:
[45] A lanterna na popa, Rio de Janeiro, Topbooks, 1994, p. 843.
[46] Miguel Calmon – uma grande vida, Prefácio de Afonso Arinos de Melo Franco, Rio de Janeiro, José Olympio Editora; Brasília, INL (Instituto Nacional do Livro), 1983, p. 170.
[47]Prefácio, in Gumercindo Rocha DOREA (Organizador), “Existe um pensamento político brasileiro?”, Existe, sim, Raymundo Faoro: o Integralismo!: uma nova geração analisa e interpreta o Manifesto de Outubro de 1932 de Plínio Salgado, cit.,  p. XVI.
[48] Cf. A MARCHA, Plínio Salgado falou aos estudantes da Universidade Católica de São Paulo, in A Marcha, ano I, n. 26, 14 de agosto de 1953, p. 1.
[49] Plínio Salgado, esse injustiçado, in Gumercindo Rocha DOREA (Organizador e apresentador), São Bento do Sapucaí, São Paulo, Espaço Cultural Plínio Salgado, 1994, p. 15.
[50] A notável oração do Dr. Hipólito Raposo, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1986, p. 189.
[51] Plínio Salgado na tradição do Brasil, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, cit., p. 47.
[52] Idem, p. 70.
[53] O cavaleiro do Brasil Integral, in Sei que vou por aqui!, ano I, n. 2, São Paulo, setembro-dezembro de 2004, p. XVII. Artigo originalmente publicado no Jornal do Brasil a 20/07/1933.
[54] Plínio Salgado e o pensamento tradicional, in Gumercindo Rocha DOREA (Organizador), “Existe um pensamento político brasileiro?”, Existe, sim, Raymundo Faoro: o Integralismo!: uma nova geração analisa e interpreta o Manifesto de Outubro de 1932 de Plínio Salgado, cit.,  p. 107.ro, 1979, pp. 26-27.


12 de Outubro

No último dia 07 de Outubro, celebramos os quatrocentos e quarenta e cinco anos da vitória cristã na Batalha de Lepanto, que salvou a Europa e a Cristandade e pôs termo à expansão do Império Otomano no Mediterrâneo, assim como o octogésimo quarto aniversário do Manifesto de Outubro, documento fundamental do Integralismo, cuja mensagem essencialmente cristã e brasileira rapidamente se espalhou por todo o território nacional, constituindo a base doutrinária do maior movimento social renovador de toda a História Pátria.

Hoje, dia 12 de Outubro, nós outros, legionários de Deus, da Pátria e da Família, celebramos o Dia de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil, do mesmo modo que o Dia da Hispanidade, o Dia da América, o Dia das Crianças e o octogésimo quinto aniversário do Monumento ao Cristo Redentor do Corcovado e da solene consagração do Brasil a Cristo Rei e Redentor.

Há exatos duzentos e noventa e nove anos, aos doze dias do mês de outubro do ano da graça de 1717, nas águas do rio Paraíba do Sul, no atual Município de Aparecida, tradicional e popularmente conhecido como “Aparecida do Norte” e por esse tempo pertencente à Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá, na então Capitania de São Paulo e das Minas do Ouro, humildes pescadores encontraram uma enegrecida imagem de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal, heroica e cruzada Nação de que nasceu a nossa igualmente heroica e cruzada Nação. Hoje, todos os autênticos brasileiros, quer se considerem ou não católicos, devem evocar, com o máximo respeito, a figura de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, padroeira deste grande Império do ontem e do amanhã, ao lado do injustamente olvidado São Pedro de Alcântara.

Como ressaltou Plínio Salgado, o menos conhecido e mais injustiçado dos grandes pensadores e escritores católicos do Brasil, numa de suas magníficas Mensagens ao Mundo Lusíada, a 6 de fevereiro de 1818, data de sua coroação, El-Rei D. João VI, soberano do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, instituiu a Ordem Militar da Conceição de Vila Viçosa e confirmou a consagração que El-Rei D. João IV fizera das Pátrias Lusíadas a Maria Imaculada, em 1646. Conforme igualmente sublinhou o autor de O Rei dos reis e de Primeiro, Cristo!, D. João VI, primeiro príncipe português a pisar o solo brasileiro e americano, foi quem elevou o Brasil à categoria de Reino, aos 16 dias do mês de dezembro do ano da Graça de 1815, data em que a nossa Terra de Santa Cruz se tornou uma “nação independente, conquanto unida a Portugal, na grande fórmula dos Reinos componentes da comunidade lusíada”. Portanto, ainda como frisou Plínio Salgado, a mão que assinou a outorga de maioridade e de personalidade política a esta Terra de Santa Cruz foi a mesma nobre e inspirada mão que aos povos lusíadas dos dois lados do Atlântico “legou um penhor de união indissolúvel no culto de Maria Imaculada”,[1] a quem, nas palavras do autor de Mensagens ao Mundo Lusíada,

proclamamos Rainha e Padroeira de Portugal, do Brasil e de todos os povos que falam a mesma língua em que Camões cantou e em que rezaram os Santos, os Cavaleiros e os Reis construtores da nossa História e profetas do nosso Destino.[2]

Ainda conforme enfatizou o magno adail da Fé e cavaleiro do Brasil Profundo que foi e é Plínio Salgado, só com Maria Imaculada e por Ela, os brasileiros e portugueses lograrão salvar o patrimônio da Civilização Lusíada “da voragem de misérias que, sob rótulos pomposos e esperanças ilusórias se escondem na boca dos falsos profetas”.[3]

Foi também a 12 de Outubro que Cristóvão Colombo chegou a este Continente que tantos filhos e frutos deu à Cristandade, sendo nesta data celebrado, em todo o Mundo Hispânico, ao qual pertence o Brasil, assim como Portugal e todo o Mundo Lusíada, o Dia da Hispanidade, também chamado Dia da Raça, tomado este último termo em seu sentido espiritual e cultural. É assim, pois, que nós outros, descendentes em sangue e espírito ou apenas em espírito dos portugueses, daquela “gente fortissima de Espanha" de que nos fala Luís Vaz de Camões,[4] Príncipe dos Poetas das Espanhas, defendendo, como António Sardinha, “a unidade cultural e social do elevado destino que Portugal e Castela nobremente conseguiram no Universo, dilatando com a Fé e o Império o mesmo ideal superior da civilização”,[5] celebramos o Dia da Hispanidade, lamentavelmente tão pouco evocado em nossa América Lusíada. E, como luso-americanos, e, enquanto tais, filhos da América, não podemos deixar de celebrar o dia deste imenso Continente.

Quanto ao Dia das Crianças, o despimos do caráter comercial que este adquiriu, assim como do caráter, que igualmente adquiriu, em nosso País, de substituição ao Dia de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, substituição esta orquestrada pelas forças anticristãs, antitradicionais e antinacionais controladas pelos adoradores de Mamon e do Bezerro de Ouro. E, assim, lembrando que tal dia foi instituído com intenções legítimas pelo Presidente Arthur Bernardes, católico sincero e exemplar patriota e nacionalista, homenageamos todas as crianças brasileiras, representantes do porvir da Nação, rogando a Deus que suscite entre elas futuros soldados de Cristo Rei e da Terra de Santa Cruz.

Por fim, recordemos o octogésimo quinto aniversário da estátua do Cristo Redentor do Corcovado e da solene consagração do Brasil a Cristo Rei e Redentor, realizada pelo Cardeal Dom Sebastião Leme da Silveira Cintra, Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, por ocasião da inauguração daquele monumento, que, como escreveu Tasso da Silveira, no seu magnífico Cântico ao Cristo do Corcovado, estende os braços sobre o Rio de Janeiro e todo o Brasil “numa bênção infinita”.[6] E ressaltemos que, ainda como observou, no aludido poema, o poeta dos Cantos do campo de batalha e do Canto absoluto, nós outros, os brasileiros, não nos importamos em ser “o Povo-sem-Nome sobre a terra”, desde que também sejamos o “jardim fechado” de Nosso Senhor Jesus Cristo, de onde Este “colha as almas luminosas/ como rosas frescas e matinais...”, e desde que sejamos, ainda, o “esplêndido trigal” do Divino Mestre, de que Este tire a “farinha alvíssima” para Seu “pão de pureza” e para Seu “pão de glória”, porque “o destino que sobre todos os destinos desejamos” é aquele de, “para todo o sempre”, servir e adorar a Cristo Rei e Redentor.[7]

Isto posto, fechemos esta breve apresentação transcrevendo a fórmula de consagração de nossa Terra de Santa Cruz a Cristo Rei e Redentor, composta pela Madre Maria José de Jesus, priora do Convento de Santa Tereza, a pedido de Dom Leme, e, em seguida, uma breve invocação de Plínio Salgado a Cristo Rei, que vem a ser a peroração da conferência intitulada Primeiro, Cristo! e por ele proferida em 28 de outubro de 1945 no Liceu Camões, em Lisboa, a convite da Acção Católica portuguesa e na presença de Dom Manuel Gonçalves Cerejeira, Cardeal-Patriarca de Lisboa.

Senhor Jesus, Redentor nosso, verdadeiro Deus
E verdadeiro Homem, que Sois para o mundo
A única fonte de luz, de paz, de progresso e de felicidade,
E Salvador que nos remistes com o sacrifício da Vossa vida,
Eis a Vossos pés representado o Brasil, a Terra de Santa Cruz,
Que se consagra solenemente a Vosso Coração sacratíssimo
E Vos reconhece, para sempre, por seu único Rei e Senhor.

Vós, que esculpistes no céu brasileiro a Vossa cruz,
De onde jamais poderá ser apagada,
Aceitai e abençoai essa imagem que será entre nós
O símbolo de Vossa Fé de Rei de nosso espírito,
De Vossa dor de Rei de nossos corações.
Oh! Reinai, Senhor Jesus, reinai sobre nossa Pátria
Queremos que o Brasil viva e prospere sob os Vossos olhares,
Queremos que o nosso povo seja sempre iluminado

Pela verdade de vosso Evangelho.

Reinai, ó Cristo Rei, reinai, ó Cristo Redentor!

Ser brasileiro seja crer em Jesus Cristo, amar a Jesus Cristo!
E esta sagrada imagem seja o símbolo de Vosso domínio,
De Vosso amparo, de Vossa predileção, de Vossa bênção,
Que paira sobre o Brasil e sobre os brasileiros,
Como Senhor dos que, tendo sido Vossos na terra,
Vossos serão eternamente no céu.

Amém.[8]

Por Cristo-Rei

Seja, pois, a exaltação da realeza de Cristo, o coroamento destas palavras. Eu a proclamo, do fundo da minha pequenez, com o ardor de um soldado. E como soldado vos convido ó homens do meu tempo, a aclamarmos o Cristo-Rei, por cujo Reino devemos ir à luta, uma luta diferente, porque não seremos portadores de morte, mas de vida; nem de aflições, mas de consolações, nem de crueza, mas de bondade.

E Vós – ó Jesus, a quem tanto amamos, e que estais tão abandonado pelas nações no século dos horrores, como Vos prefigurou na tábua apocalíptica o pintor neerlandês [Van Aeken, o Bosch] – recebei o nosso preito de soldados fiéis, e socorrei-nos em nossas fraquezas, para que possamos cumprir quanto desejamos, no empenho de Vos bem servir; pois incapazes somos nós sem vossa Graça, mas se não faltardes com Ela, ainda que hajamos de cair muitas vezes, outras tantas nos levantaremos, de sorte que, nas horas perigosas, nas horas decisivas e, principalmente, na hora extrema, por Vós, sempre por Vós, estaremos de pé![9]

Por Cristo Rei e Redentor e pela Nação Brasileira!

Victor Emanuel Vilela Barbuy,
Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira.
São Paulo, 12 de Outubro de 2016- LXXXIV.

Notas:
[1] Mensagens ao Mundo Lusíada, in O Rei dos reis, 5ª edição, in Obras completas, volume 6, 2ª edição, São Paulo, Editora das Américas, 1957, pp. 350-351.
[2] Idem, p. 351.
[3] Idem, loc. cit.
[4] Os Lusíadas, Canto I, estrofe XXXI.
[5] À lareira de Castela, Lisboa, Edições Gama, 1943, pp. 12-13.
[6] Cântico ao Cristo do Corcovado (1931), 6ª edição, in Cantos do campo de batalha, 4ª edição, Texto introdutório de Amândio César, São Paulo, Edições GRD, 1997, p. 40.
[7] Idem, p. 48.
[8] In PIO XI, Carta Encíclica Quas Primas, Tradução de Renato Romano, Belo Horizonte, Edições Cristo Rei, 2011, p. 53 (edição comemorativa dos 80 anos de inauguração do Cristo Redentor e da consagração do Brasil a Cristo Rei e Redentor). A fórmula de consagração do Brasil a Cristo Rei e Redentor foi transcrita nesta obra do jornal Folha da Manhã, de São Paulo, de 13 de outubro de 1931.

[9] Primeiro, Cristo!, 4ª ed. (em verdade 5ª), Palavras introdutórias de Manuel Trindade Salgueiro, Bispo de Helenópole, São Paulo/Brasília, Editora Voz do Oeste/Instituto Nacional do Livro, 1979, pp. 26-27.

Fidel Castro está morto!


Faleceu, no último dia 25 de novembro, em Havana, um dos mais terríveis tiranos do século 20, o ditador cubano Fidel Castro Ruz, que, diversamente do que um dia proclamou, não será absolvido pela História. Esperamos que seja a morte deste execrável tirano o prenúncio de uma nova alvorada no arquipélago de Cuba e que este logo se veja integralmente livre da infame tirania dos Castro e de sua camarilha, que tem infelicitado aquela nação desde o dia 1º de janeiro de 1959.

Faz-se mister assinalar, antes de mais nada, que lamentamos profundamente o fato de alguns ditos tradicionalistas, patriotas e nacionalistas brasileiros incensarem este sanguinário líder ateu e comunista, que, como nenhum outro governante de Cuba, afastou esta pátria de sua Tradição e que a transformou num mero satélite da ora extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Cumpre enfatizar, do mesmo modo, que a tirania de Fidel Castro, que transformou Cuba num arquipélago-prisão, foi, de longe, a mais assassina da História do Continente Americano, tendo sido responsável, direta ou indiretamente, pela morte de várias dezenas de milhares de cubanos e havendo, ademais, prendido e muitas vezes torturado e/ou enviado para campos de concentração semelhantes aos tristemente famosos gulags soviéticos várias outras dezenas de milhares de pessoas, muitas das quais apenas por serem suspeitas de nutrir ideais contrários ao regime.

É necessário, ainda, recordar que Castro perseguiu duramente a Igreja em Cuba e confiscou suas propriedades, assim como as propriedades de centenas de milhares de cidadãos cubanos, e salientar que a excelência da medicina cubana, tão apregoada pelos apoiadores da tirania castrista, era já uma realidade muito antes do triunfo da revolução (anti)cubana de 1953-1959 e não passa de um mito desde o fim da bilionária ajuda econômica soviética a Cuba, no início da década de 1990.

Fidel Castro está morto, assim como sua infausta ideologia, cujo cadáver muitos ainda insistem em carregar, e a História não os absolverá. A propósito, temos plena consciência de que sua figura, suas obras e seus ideais não terão outro destino que não o “inferno da História”, assim como temos igualmente plena consciência de que só Deus sabe qual destino terá sua alma e de que não nos é lícito desejar que alguém vá para o inferno.

Encerramos este artigo rogando a Deus, Criador e Soberano do Universo, e à Virgem da Caridade do Cobre, padroeira de Cuba, que protejam a antiga e, esperamos, futura “Pérola do Caribe” e seu sofrido povo e que ajudem aquela pequena grande nação irmã a se ver, o quanto antes, não apenas plenamente livre da tirania comunista instaurada em 1959, como também novamente integrada às suas verdadeiras raízes, à sua autêntica Tradição.

¡Arriba Cuba!

¡Cuba sí! Castro no!

Por Cristo e pela Nação!

Victor Emanuel Vilela Barbuy,
Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira,
São Paulo, 26 de novembro de 2016-LXXXIV.


Breve esboço autobiográfico (2014)

Chamo-me Victor Emanuel Vilela Barbuy e nasci em São Paulo, capital da província de mesmo nome, aos onze dias do mês de janeiro do ano da Graça do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1985. Sou, pois, um filho da Cidade e da Terra Bandeirante e do Império do Brasil, ou, se preferirdes, da América Lusíada.

Crescido em Santo Amaro, outrora Município e hoje região da Capital Paulista, formei-me em Direito pela Universidade Mackenzie e sou Mestre em Direito Civil, na área de História do Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), a tradicional Academia do Largo de São Francisco, que um dia fez de São Paulo uma espécie de “Coimbra brasileira”, com o então límpido rio Tietê fazendo as vezes de Mondego, como algures escreveu Ribeiro Couto [1].

Sou Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira (FIB), instituição que pugna pelos ideais essencialmente cristãos, tradicionais e patrióticos do Integralismo Brasileiro, e Primeiro Vice-Presidente da Casa de Plínio Salgado, instituição que zela pela memória deste magno arauto e adail de Cristo Rei e do Brasil Profundo, chamado por Hipólito Raposo “o mais eloquente intérprete da Brasilidade” [2] e reputado por Francisco Elías de Tejada o “profeta incandescente e sublime de seu povo” e a “encarnação viva do Brasil melhor” [3], assim como o “descobridor bandeirante das essências de sua pátria” [4]. Havendo mencionado o nome de Plínio Salgado, reputamos oportuno assinalar que este “cavaleiro do Brasil Integral”, na expressão do supracitado Ribeiro Couto [5], e “cavaleiro do verbo claro e ardente”, na frase do Padre Moreira das Neves, “soube”, no dizer deste último, em belo poema dedicado à sua memória, “amar o Brasil e Portugal/ Com amor tão profundo e tão igual,/ Que nunca, no seu peito, os distinguia” [6]. E foi com este amor que Plínio Salgado, “cavalheiro de nobres ideais e de igual nobreza de sentimentos”, como aduziu Fernando de Aguiar [7], escreveu, “porque lusíada, com o seu sangue”, para Portugal e para a Terra de Santa Cruz, havendo sido, no dizer do ínclito escritor português, o brasileiro que, melhor compreendendo o povo lusitano, “mais ilustrou o intercâmbio cultural entre as duas Pátrias de língua portuguesa”, bem como aquele que “mais rente, e pelo coração, soube segurar, prender e unir, em nossos dias, os nós sagrados que para sempre hão-de vincular, no futuro, o Brasil a Portugal e Portugal ao Brasil” [8].

Além da Frente Integralista Brasileira e da Casa de Plínio Salgado, sou membro do Centro de Estudos de Direito Natural José Pedro Galvão de Sousa, do Instituto Brasileiro de Filosofia, do Centro de Estudos de Direito Romano e de História do Direito José Pedro Galvão de Sousa, do Centro de Estudos Professor Arlindo Veiga dos Santos e do Centro de Estudos Gustavo Barroso, todos da Capital Paulista. Tenho artigos publicados em diversos sítios e blogues da rede mundial de computadores, bem como em livros e diferentes periódicos de minha província natal, a exemplo da Revista da Faculdade de Direito de São Paulo (São Paulo/SP) e dos jornais Linguagem viva (São Paulo/SP), O Lince (Aparecida/SP), O Município (São João da Boa Vista/SP), Gazeta de Jarinu(Jarinu/SP) e Bastidores (Jarinu/SP).

Assim como meu avô, o filósofo, escritor e sociólogo Heraldo Barbuy, sou Católico Apostólico Romano e adepto do jusnaturalismo tradicional, ou clássico, da Filosofia Perene do Tomismo, da autêntica Doutrina Social da Igreja e do autêntico tradicionalismo político, que não pode e não deve ser confundido com o tradicionalismo filosófico e nem com aquele conservadorismo alheio a toda e qualquer inovação e que visa preservar, intacto, o status quo, que, aliás, muito pouco guarda da verdadeira Ordem Tradicional.

Do mesmo modo, o autêntico tradicionalismo político não se confunde com o passadismo, que, como salientou Arlindo Veiga dos Santos, pretende “copiar simples e ingenuamente o passado” [9], e nem com o saudosismo, que igualmente sobre-estima e mesmo cultua o pretérito, diferindo do passadismo apenas por não acreditar na restauração de tal pretérito, correspondendo, em última análise, segundo Gustavo Barroso, ao olhar para trás condenado da esposa de Ló, transformada, por castigo divino, em estátua de sal [10]. Diversamente, pois, do passadismo e do saudosismo, o autêntico tradicionalismo político atualiza o passado dinamicamente, atento às lições do pretérito e respeitoso daquilo que é permanente no espírito e na vida nacional, mas também prudente e inteligentemente contemplando as necessidades do presente e do futuro [11], consciente de que amar as tradições da Terra, da Estirpe e dos Heróis é buscar nos exemplos do pretérito aquilo a que Gustavo Barroso denominou “a fé construtiva do futuro” [12].

Havendo feito estas considerações a respeito do verdadeiro tradicionalismo político, reputo ser mister sublinhar que, como bem frisou Francisco Elías de Tejada, “a Tradição constitui algo mais que a medula dos povos”, sendo toda uma excelente “filosofia política”, a “filosofia do homem concreto” e das liberdades tradicionais, concretas e limitadas [13], em oposição à ideologia liberal do homem abstrato e da liberdade abstrata. E igualmente considero ser necessário ressaltar que a Tradição não é o passado como um todo, mas tão somente a parte do passado que, no dizer de Víctor Pradera, “qualifica suficientemente os fundamentos da vida humana de relação”, isto é, “o passado que sobrevive e tem virtude para fazer-se futuro” [14], da mesma forma que julgo ser imperioso sublinhar que a Tradição não se opõe ao Progresso, sendo, aliás, o alicerce de todo Progresso verdadeiro e estável.

Antes de encerrar a presente apresentação de minha pessoa, faz-se mister enfatizar que me oponho ao liberalismo em todas as suas faces, salientando que, como bem sintetizou Dom Félix Sardá y Salvany, “o Liberalismo em todos os seus graus e aspectos está formalmente condenado pela Igreja” [15]. 

Do mesmo modo, vale destacar que igualmente me oponho ao capitalismo, que entendo não como o regime econômico baseado na propriedade privada e na livre iniciativa, que, aliás, defendo, mas sim como o sistema econômico em que o sujeito da Economia é o Capital, cujo acréscimo ilimitado, pela aplicação de pretensas leis econômicas mecânicas, é considerado o objetivo final e único de toda a produção [16], e que é, em última análise, um destruidor não apenas da propriedade, como bem escreveu Gustavo Barroso [17], como também da livre iniciativa e mesmo dos princípios morais e das tradições cristãs e nacionais. 

Isto posto, cumpre frisar que, como bem aduziu o Bem-Aventurado Papa Pio XII, na Exortação Apostólica Menti nostrae, “a Igreja não tem cessado de denunciar as graves consequências” do “sistema econômico conhecido pelo nome de capitalismo”, tendo não apenas apontado “os abusos do capital e do próprio direito de propriedade que o mesmo sistema promove e defende”, mas igualmente ensinado que “o capital e a propriedade devem ser instrumentos da produção em proveito de toda a sociedade e meios de manutenção e de defesa da liberdade e da dignidade da pessoa humana”. Os erros dos sistemas econômicos comunista e capitalista, assim como “as ruinosas consequências que deles derivam devem a todos convencer”, ainda segundo observou Pio XII, a se manter fiéis à Doutrina Social da Igreja e a lhe difundir o conhecimento e a aplicação prática. Como fez salientar aquele ínclito sucessor de São Pedro, é tal doutrina a única capaz de “remediar os males denunciados e tão dolorosamente difundidos”, unindo e aperfeiçoando “as exigências da justiça e os deveres da caridade”, e promovendo “tal ordem social que não oprima os cidadãos e não os isole num egoísmo seco, mas a todos uma na harmonia das relações e nos vínculos da solidariedade fraternal” [18].         
Fechemos este texto. Que seja cada parágrafo, cada linha, cada palavra escrita e cada ideia por mim sustentada um ato de Fé em Cristo Rei, Sumo e Eterno Príncipe, por cujo reinado pelejo, assim como de esperança no futuro da Terra de Santa Cruz, de Portugal e de todo o Mundo Lusíada.

Por Cristo e pelo Império Lusíada!
Victor Emanuel Vilela Barbuy,
São Paulo do Campo de Piratininga, 07 de julho de 2014.

 NOTAS:

[1] Lugares comuns de um admirador brasileiro de Eça de Queiroz, in Sentimento lusitano, São Paulo, Livraria Martins Editora, 1961, p. 97.
[2] A notável oração do Dr. Hipólito RaposoIn VV.AA, Plínio Salgado: “in memoriam”, Vol. II, São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1986, p. 189.
[3] Plínio Salgado na tradição do Brasil, in VV.AA. Plínio Salgado: “in memoriam”, Vol. II, cit., p. 47.
[4] Idem, p. 70.
[5] Plínio Salgado, cavaleiro do Brasil Integral, in Sei que vou por aqui!, ano 1, n. 2, São Paulo, setembro-dezembro de 2004, pp. XVII-XVIII. O artigo foi originalmente publicado no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, a 20/07/1933 e também está disponível na obra Plínio Salgado (4ª edição, São Paulo, Companhia Editora Panorama, 1937, pp. 97-103).
[6] Cavaleiro do Verbo: à memória de Plínio Salgado. In VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, Vol. II, cit., p. 9.
[7] Gente de casa: retratos de homens & perfis de ideias, Lisboa, Sigma, 1948, p. 89.
[8] Idem, pp. 111-112.
[9] Ideias que marcham no silêncio, São Paulo, Pátria-Nova, 1962, p. 73. Grifo em itálico no original.
[10] Espírito do século XX, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira S/A, 1936, p. 263.
[11] Cf. Arlindo Veiga dos SANTOS, Ideias que marcham no silêncio, cit., loc. cit.
[12] Espírito do século XX, cit., loc. cit.
[13] La lección política de Navarra, in Reconquista, Ano I, Vol. I, n. 2, São Paulo, 1950, p. 127. Tradução nossa.
[14] O Novo Estado, Tradução portuguesa, Lisboa, Edições Gama, 1947, p. 15.
[15] O liberalismo é pecado, Tradução portuguesa, São Paulo, Companhia Editora Panorama, 1949, p. 37.
[16] Cf. Victor Emanuel Vilela BARBUY, Justiça e Bem Comum, in Marcelo Roland ZOVICO (Organizador), Filosofia do Direito: Estudos em homenagem a Willis Santiago Guerra Filho, São Paulo, Editora Clássica, 2012, p. 329. No mesmo sentido, podemos citar, dentre outros autores, Julio Meinvielle, que, na obra Concepción Católica de la Economía, de 1936, definiu o capitalismo como sendo “um sistema econômico que busca o acréscimo ilimitado dos lucros pela aplicação de leis econômicas mecânicas” (Julio MEINVIELLE, Concepción católica de la Economía, p. 5. Disponível em:  http://www.institutosapientia.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=1273:obras-raras-de-filosofia&catid=98:geral. Acesso em 12 de julho de 2013. Tradução nossa.), e Miguel Reale, que, em O capitalismo internacional, de 1935, sustentou que o “capitalismo é o sistema econômico no qual o sujeito da Economia é o Capital, sendo o acréscimo indefinido deste considerado o objetivo final e único de toda a produção” (Miguel REALE, O capitalismo internacional: introdução à Economia Nova. 1ª edição, Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1935, p. 87.).
[17] O que o Integralista deve saber, 5ª edição, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, S.A, 1937, p. 135.

[18] Menti nostraeSobre a santidade da vida sacerdotal, iDocumentos de Pio XII, TraduçãoPoliglota Vaticana, São Paulo, Paulus, 1998, p. 499.