quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Idealismo utópico e idealismo orgânico

Victor Emanuel Vilela Barbuy

Um dos mais notáveis sociólogos, cientistas políticos, historiadores e juristas brasileiros, Francisco José de Oliveira Vianna nasceu a 20 de julho de 1883 numa fazenda do Distrito de Rio Seco, no município fluminense de Saquarema, sendo filho do fazendeiro Francisco José de Oliveira Vianna e de D. Balbina Rosa de Azeredo Vianna, e faleceu em Niterói a 28 de março de 1951.

Após aprender, em casa, as primeiras letras e a aritmética, estudou na escola pública de Saquarema, dirigida pelo Professor Joaquim de Sousa, e, mais tarde, ainda em Saquarema, na escola do Professor Felipe Alves de Azeredo. Em 1897 se mudou para Niterói, onde estudou, até 1900, no Colégio Carlos Alberto. Concluiu o curso de humanidades no tradicional Colégio Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, e, em seguida, ingressou na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, da qual saiu bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais em 1906.

Depois de formado, exerceu a advocacia por breve período, na então Capital Federal, e, em seguida, passou a ensinar História no Colégio Abílio, em Niterói, ao mesmo tempo em que dava aulas particulares de Matemática. Em 1916 principiou a lecionar Prática de Direito Penal na Faculdade de Direito de Niterói, de que foi um dos primeiros professores e na qual, após um período de afastamento, assumiu, na década de 1930, a cadeira de Direito Social, mais tarde denominado Direito do Trabalho.

Em 1926, se tornou Diretor do Instituto de Fomento Agrícola do Rio de Janeiro e, em 1931, foi nomeado membro do Conselho Consultivo do Rio de Janeiro. De 1932 a 1940 foi Consultor Jurídico do Ministério do Trabalho e, ao deixar o cargo, foi nomeado Ministro do Tribunal de Contas da União, após haver declinado do oferecimento de Vargas de ocupar o cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal, o que fizera sob alegação de não ter mais idade para se dedicar aos estudos do Direito Civil e manifestando intenção de retornar a seus estudos sociológicos.

Fiel às origens, este cultor da Terra e da Tradição conservou, até o fim de sua existência, a gleba de terra que herdou do pai, falecido quando tinha apenas dois anos de idade, se orgulhando profundamente de sua condição de fazendeiro.

Pertenceu à Academia Brasileira de Letras, ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a seus congêneres do Pará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará, à Academia Fluminense de Letras, ao Conselho Nacional de Geografia, à Sociedade dos Amigos de Alberto Torres, à Sociedade dos Americanistas, de Paris, ao Instituto Internacional de Antropologia, à Academia de História de Portugal, à Academia de Ciências Sociais de Havana, à Academia Dominicana de História e à Sociedade de Antropologia e Etnologia do Porto, dentre outras instituições, e foi membro da Comissão Especial encarregada da revisão da Constituição (1933) e da Comissão Revisora das Leis do Ministério da Justiça (1939).

Católico apostólico romano, foi legionário do Sagrado Coração de Jesus e fundamentou na Doutrina Social da Igreja suas doutrinas corporativistas, que, aliás, exerceram profunda influência na formação da Justiça e do Direito Laboral Pátrio. Assim como Plínio Salgado, por exemplo, defendeu, inspirado, antes e acima de tudo, nas encíclicas Rerum Novarum, de Leão XIII, eQuadragesimo Anno, de Pio XI, um modelo de Estado Corporativo fundamentalmente distinto daquele do fascismo italiano, cujo totalitarismo jamais aceitou, ainda do mesmo modo que Plínio Salgado, que bem expôs suas severas críticas ao Estado Totalitário em trabalhos como a Carta de Natal e fim de ano, publicado no jornal A Ofensiva, do Rio de Janeiro, a 25 de dezembro de 1935 [1], e Estado Totalitário e Estado Integral, publicado no mesmo jornal a 01 de novembro de 1936 [2]. Por fim, igualmente a exemplo de Plínio Salgado [3] e inspirado na Doutrina Social da Igreja, pugnou pela implantação, no Brasil, de uma autêntica Democracia Cristã [4], a que também denomina Democracia Corporativa [5].

Jornalista de amplos recursos, colaborou em diversos jornais e revistas do Rio de Janeiro e de São Paulo. Da vasta e profícua obra sociológica, histórica, jurídica, antropológica e política deste “intelectual brasileiro autêntico”, na expressão de Paulo Edmur de Souza Queiroz [6], podemos destacar os seguintes trabalhos: Populações meridionais do Brasil, cujo primeiro volume, de grande repercussão dentro e fora do País, foi publicado em 1920, enquanto o segundo, escrito muito mais tarde, só foi dado à luz postumamente, em 1952; O idealismo na evolução política do Império e da República (1922); O ocaso do Império (1925); O idealismo da Constituição (1927, com segunda edição, revista e bastante aumentada, em 1939); Problemas de política objetiva(1930); Problemas de Direito Corporativo (1938); Problemas de Direito Sindical (1943); Instituições políticas brasileiras (1949); Direito do Trabalho e Democracia Social (1951) e Problemas de organização e problemas de direção (1952).

Marcante na vida e na obra de Oliveira Vianna foi a influência de Alberto Torres, proeminente sociólogo e pensador político com quem teve ele o privilégio de conviver na mocidade, e que desempenhou papel fundamental em sua decisão de se dedicar aos estudos sociológicos. É certo, porém, que muitas são as diferenças que separam o pensamento de ambos, sendo que, em nosso sentir, Oliveira Vianna, muito mais liberto da idolatria dos “imortais princípios” utópicos e apriorísticos da denominada revolução francesa do que Alberto Torres, tem razão em todas elas, salvo naquela que diz respeito à questão étnica. Neste aspecto, discordamos fortemente das ideias ditas arianizantes do autor de Raça e assimilação, enquanto concordamos inteiramente com aquelas do autor de O problema nacional brasileiro, uma das primeiras vozes ilustres, com efeito, a se levantar contra as teorias racistas em nosso País, denunciando o absurdo destas e o seu uso pelas grandes potências como justificativa de suas políticas imperialistas. A posição de Torres, aliás, seria seguida e desenvolvida por Plínio Salgado e outros integralistas, que, como assinala Alberto da Costa e Silva, estavam entre os “mais atentos leitores” do autor de A organização nacional e de cuja agenda, ainda na expressão do eminente diplomata, escritor e historiador patrício, “constavam a valorização do mestiço e a dignificação do negro” [7].

Há que ressaltar, contudo, que os equívocos de Oliveira Vianna em relação à questão étnica, aliás comuns em sua época, não comprometem o conjunto da obra deste insigne vulto do pensamento nacional, em quem, a exemplo do sociólogo Guerreiro Ramos, reconhecemos um verdadeiro mestre [8]. Do mesmo modo, não compromete em nada sua obra o fato de haver participado do Estado Novo, sendo importante recordar, como o fez o historiador José Murilo de Carvalho, que intelectuais como Carlos Drummond de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda, Gustavo Capanema e Mário de Andrade, aos quais podemos acrescentar Menotti Del Picchia, Cassiano Ricardo e muitos outros, também colaboraram com o regime estadonovista, não tendo, porém, sua adesão a este cobrada tão rigorosamente quanto aquela de Oliveira Vianna [9]. Mais absurdo, porém, é o fato de que os mesmos que criticam com tanto rigor o apoio do sociólogo de Saquarema ao Estado Novo, se olvidam de criticar Jorge Amado, Graciliano Ramos ou Oswald de Andrade por seu apoio a uma ditadura muito mais terrível, qual seja a de Stálin na antiga URSS.

Feitas estas breves considerações a respeito da vida e da obra de Oliveira Vianna, passemos a tratar daquele que é, em verdade, o tema da presente comunicação: os conceitos de idealismo orgânico e de idealismo utópico, tal como definidos e empregados pelo autor de Instituições políticas brasileiras.

O idealismo orgânico é, consoante preleciona o autor de O idealismo da Constituição, o idealismo que se forma tão somente de realidade, se apoia tão somente na experiência e se orienta tão somente pela observação do povo e do meio [10]. Não é, pois, senão o idealismo realista, ou o “idealismo fundado na experiência”, de que nos fala o médico, filósofo e sociólogo ítalo-argentino José Ingenieros (nascido Giuseppe Ingegneri em Palermo, na Sicília) [11] e que, conforme salienta o médico, pensador e político equatoriano Julio Endara, representa “uma força moral inspirada no desejo de melhorar o real” e não uma simples ideologia abstrata [12].

O idealismo orgânico é, em uma palavra, o idealismo consciente de que as instituições devem brotar da Tradição e da História dos povos e não da cabeça de ideólogos criadores de quimeras, o idealismo que extrai da História uma Tradição sólida e viva, um coeficiente espiritual de edificação moral, social e cívica, um desenvolvimento estável e verdadeiro, transmissor e enriquecedor do patrimônio de pensamento e de costumes herdado de nossos maiores.

O idealismo utópico, a que também podemos denominar idealismo inorgânico, é o idealismo que não leva em consideração os dados da experiência [13], podendo ser definido como “todo e qualquer conjunto de aspirações políticas em íntimo desacordo com as condições reais e orgânicas da sociedade que pretende reger e dirigir” [14]. Corresponde ele à “política silogística” de que nos fala Joaquim Nabuco em Balmaceda e que é definida como a “pura arte de construção no vácuo”, tendo, como base, “teses, e não fatos”, como material, “ideias, e não homens”, como situação, “o mundo, e não o país” e, como habitantes, “as gerações futuras, e não as atuais” [15].

Há que ressaltar, contudo, que o próprio Joaquim Nabuco padeceu, em certa medida, do mal do idealismo utópico, posto que defendeu, até o fim de sua vida, o modelo monárquico liberal adotado pelo Império do Brasil, embasado numa Constituição utópica e apriorística, que, segundo Oliveira Vianna, decretou, sem consultar a nossa Cultura e as nossas Tradições, que os brasileiros passassem a praticar o parlamentarismo inglês [16].

O idealismo utópico se denuncia, num sistema constitucional, segundo preleciona Oliveira Vianna, pela “disparidade que há entre a grandeza e a impressionante eurritmia da sua estrutura e a insignificância do seu rendimento efetivo – e isto quando não se verifica a sua esterilidade completa” [17]. Assim, constituições belíssimas em suas promessas produzem resultados contrários àqueles pretendidos, posto que baseadas em quimeras, em mitos abstratos e artificiosos engendrados pela razão humana e não pela experiência, ou Tradição [18].

Havendo falado em Tradição, reputamos necessário tecer algumas breves considerações a respeito desta. Derivada do latim traditio, de tradere, entregar, a palavra "tradição" indica, pois, a entrega, a transmissão constante, pelas gerações sucessivas, de um patrimônio de valores religiosos, espirituais e culturais, mantidos sempre naquilo que têm de essencial e aprimorados naquilo que têm de acessório. Podemos, outrossim, defini-la, parafraseando José de Alencar [19], como a arca veneranda da sabedoria de nossos maiores, consolidada pelos séculos e apurada pelas gerações.

A Tradição é a base de todo o progresso autêntico, representando, segundo preleciona o poeta e pensador português António Sardinha, a “continuidade no desenvolvimento”, a “permanência na renovação” [20] e traduzindo, outrossim, filosófica e historicamente, “dinamismo e continuidade” [21]. Daí o pensador espanhol Vázquez de Mella sustentar que a Tradição é o “progresso hereditário” [22], o filósofo italiano Michele Federico Sciacca afirmar que “não há progresso verdadeiro ou construtivo sem tradição e não há tradição viva e operante sem progresso” [23], e o pensador e poeta brasileiro Arlindo Veiga dos Santos salientar que “Tradição é vida, é progresso” e que “o pretenso progresso que renega a tradição é eterno recomeço, perpétua imperfeição” [24], do mesmo modo que “o Presente que nega o Passado não terá futuro” [25].

Em uma palavra, a Tradição, fio que une as gerações presentes às passadas e às futuras, deve ser compreendida não como um ser fossilizado, como uma relíquia de museu, mas sim como uma força viva, dinâmica e atuante, que não se constitui na antítese do Progresso, mas sim no seu pressuposto.

“Fonte de permanente renovação”, no dizer de Alfredo Buzaid, a Tradição nos subministra, ainda segundo este conceituado jurista patrício, “o passado vivo, com os seus exemplos, as suas inspirações, o seu legado de saber e de experiências” [26]. Tinha consciência disto Oliveira Vianna, para quem nós outros “não somos senão uma coleção de almas, que nos vêm do infinito do tempo” [27], e que preleciona que cada Nação é uma entidade única e inconfundível, dotada de fórmula sociológica e modo de vida próprio, decorrentes de sua formação histórica e social [28]. Assim, a Nação projeta no tempo tradições, costumes, crenças religiosas, formas de ver, pensar e agir, uma cosmovisão, ou uma visão de Mundo, que constituem parte integrante de seu patrimônio cultural, somente existindo enquanto seu povo mantém esse patrimônio, por meio da Tradição, não podendo, pois, haver Nação sem Tradição, assim como Pátria sem Tradição [29]. Daí, com efeito, observar o historiador e pensador português Alfredo Pimenta que “Nação que rejeita a Tradição é Nação que se suicida, que se nega a si própria” [30].

Podemos afirmar, outrossim, que, se o nosso Brasil, desde a Constituição de 1824, como bem observa Oliveira Vianna, tem adotado “regimes ou sistemas inteiramente fora de seus hábitos mentais e sociais” [31], adotando, pois, o idealismo utópico e negando a sua Tradição, tem ele se negado a si próprio. Daí fazermos nossa a opinião do jusfilósofo espanhol Francisco Elías de Tejada, que, aliás, vai plenamente ao encontro dos ensinamentos de Oliveira Vianna, quando aquele ilustre mestre de Salamanca, profundo conhecedor do Brasil e de sua História, proclama que nosso País deve se reencontrar “com a própria essência viva mediante o repúdio de tantas fórmulas malogradas por postiças”, retornando, assim, “à autêntica Tradição social brasileira, ignorada pelo Império e ignorada pela República” [32].

Como ressalta Oliveira Vianna no prefácio à primeira edição de O idealismo da Constituição, de 1927, das edificações democráticas levantadas em nosso País, desde a Constituição de 1824 até aquela, então vigor, de 1891, passando pelo Código de Processo Civil de 1832 e o Ato Adicional de 1834, “nenhuma delas vingou, realmente, subsistir na sua pureza: todas foram condenadas ao fracasso”, posto que “nenhuma destas construções se assentou sobre bases argamassadas com a argila da nossa realidade viva – da nossa realidade social – da nossa realidade nacional”. Esta realidade nacional, com efeito, “nos ensina muita cousa”, como bem observa este autêntico mestre de idealismo orgânico, para quem, dentre as cousas ensinadas por tal realidade, está aquela “de que se, ontem como agora, o problema da democracia no Brasil tem sido mal posto, é porque tem sido posto à maneira inglesa, à maneira francesa, à maneira americana, mas, nunca, à maneira brasileira” [33].

Neste mesmo diapasão, em artigo enfeixado na obra intitulada Problemas de política objetiva, proclama o sociólogo patrício que “o que devemos buscar é um regime para nós mesmos, adequado a nós, modelado sobre as nossas realidades e refletindo as nossas idiossincrasias” [34]. Segundo sustenta ele, em outro artigo inserido no mesmo livro, “o verdadeiro caminho da democracia do Brasil” não estava na eleição de deputados ao Parlamento, mas sim no desenvolvimento dos Conselhos Técnicos e das organizações de classe, no incremento de sua importância, na intensificação de suas funções consultivas e pré-legislativas, na generalização e na sistematização da praxe de sua consulta pelos poderes públicos [35].

Infelizmente, porém, a obra de Oliveira Vianna, assim como aquela de todos os outros mestres de idealismo orgânico que temos tido, não exerce influência sobre o nosso regime político, e, assim, ainda inspirada largamente nos mitos do iluminismo e do liberalismo político dos séculos dos XVIII e XIX, refletindo, pois, o idealismo utópico, avesso à realidade e à Tradição, a democracia que temos, no Brasil, está muito longe de ser uma autêntica Democracia, ou, como diria Goffredo Telles Junior, em A Democracia e o Brasil, obra, aliás, estuante do mais lídimo idealismo orgânico, “avesso à realidade, o edifício do liberalismo é uma quimera” e, “fundada em mentiras, a democracia brasileira é um manto de irrisão” [36].

Encerremos esta comunicação. O idealismo utópico, que sobra no Brasil, assim como em toda a América Hispânica, da qual, aliás, fazemos parte [37], pode bem ser definido como o idealismo das ideologias modernas, das “escolas da utopia” de que nos fala Heraldo Barbuy e que, segundo este filósofo e sociólogo patrício, tentam dizer como o Homem e a Sociedade devem ser, sem levar em conta o que o Homem e a Sociedade de fato são [38], sendo, enfim, o infausto idealismo de nossos legisladores, que, na lição de Oliveira Vianna, não legislam para “o brasileiro de verdade, o brasileiro como ele é”, mas sim para uma “entidade abstrata”, uma “criação utópica”, um “cidadão-tipo” como aquele uma vez imaginado pelos ideólogos do “Enciclopedismo e da Soberania do Povo” [39].

Já o idealismo orgânico, de que tanto carecemos, pode bem ser definido como aquele idealismo que tem consciência de que cada Estado deve possuir uma ordem jurídica própria, constituída por normas compostas pelos valores da Sociedade, brotados da História, da Tradição e dos costumes, tendo presente que, consoante faz salientar Tobias Barreto, “as instituições que não são filhas dos costumes mas produtos abstratos da razão não aguentam muito tempo a prova da experiência e vão logo quebrar-se contra os fatos” [40], e de que, na expressão do filósofo napolitano Giambattista Vico, “as coisas fora de seu estado natural não se adequam nem duram” [41]. É, em uma palavra, o idealismo que obedece àquilo a que Eduardo Prado denomina a “grande lei de que as nações devem reformar-se dentro de si mesmas, como todos os organismos vivos, com a sua própria substância” [42].



[1] SALGADO, Plínio. Carta de Natal e fim de ano. In Idem. O Integralismo perante a Nação. 3ª ed. In Idem. Obras Completas. 2ª ed., vol. IX. São Paulo: Editora das Américas, 1957, pp. 139-149.
[2] Idem. Estado Totalitário e Estado Integral. In Idem. Madrugada do Espírito. 4ª ed. In Idem.Obras Completas. 2ª ed., vol. VII. São Paulo: Editora das Américas, 1957, pp. 443-449.
[3] Idem. Conceito cristão da Democracia. 6ª ed. In Idem. Obras Completas. 2ª ed., vol. VIII. São Paulo: Editora das Américas, 1959, pp. 317-413. Tal obra, cuja primeira edição data de 1945, se constitui na conferência proferida pelo autor da Vida de Jesus a 08 de dezembro de 1944 no Centro Académico de Democracia Cristã, em Coimbra, Portugal. A presença da ideia de Democracia Cristã no pensamento de Plínio Salgado é, porém, anterior a esse período, remontando à década de 1930 (V., p. ex., SALGADO, Plínio. A Doutrina do Sigma. 2ª ed. Rio de Janeiro: Schmid, editor, s/d [1937], p. 49).
[4] VIANNA, Oliveira. O papel construtivo da Democracia Cristã (conferência pronunciada numa concentração católica, realizada em Niterói, em 1945). In Idem. Direito do Trabalho e Democracia Social (o problema da incorporação do trabalhador no Estado). Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1951, pp. 165-179.
[5] Idem. Democracia de partidos e Democracia de elites. In Idem. Direito do Trabalho e Democracia Social (o problema da incorporação do trabalhador no Estado), cit., p. 161.
[6] QUEIROZ, Paulo Edmur de Souza. Sociologia política de Oliveira Vianna. São Paulo: Editora Convívio, 1975, p. 34.
[7] SILVA, Alberto da Costa e. Quem fomos nós no século XX: As grandes interpretações do Brasil. In MOTA, Carlos Guilherme (org.). Viagem incompleta. A experiência brasileira (1500-2000): a grande transação. São Paulo: Editora SENAC, 2000, pp. 22-23.
[8] RAMOS, Guerreiro. O problema do negro na sociologia brasileira. In O pensamento nacionalista e os “Cadernos de Nosso Tempo”. Brasília: Câmara dos Deputados/Editora Universidade de Brasília, 1981, p. 51.
[9] CARVALHO, José Murilo de. A utopia de Oliveira Viana. In Estudos Históricos, vol. 4, n. 7, Rio de Janeiro, 1991, p. 83.
[10] VIANNA, Oliveira. O idealismo da Constituição. 2ª ed. Aumentada. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1939, pp. 12-13.
[11] INGENIEROS, José. O homem medíocre. São Paulo: Cultura Moderna, 1936, p. 14.
[12] ENDARA, Julio. José Ingenieros y el porvenir de la filosofia. Buenos Aires: General Librería, 1922, p. 94.
[13] VIANNA, Oliveira. O idealismo da Constituição, cit., p. 12.
[14] Idem, p. 10.
[15] NABUCO, Joaquim. Balmaceda. São Paulo: Companhia Editora Nacional. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira S.A., 1937, p. 15.
16] VIANNA, Oliveira. Instituições políticas brasileiras. Vol. II. (Metodologia do Direito Público: Os problemas brasileiros da Ciência Política). 2ª ed., rev. pelo autor. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1955, p. 412.
[17] Idem. O idealismo da Constituição, cit., pp. 10-11. Grifos em itálico no original.
[18] Idem, p. 11.
[19] ALENCAR, Cons. José de. A propriedade. Prefação do Cons. Dr. Antônio Joaquim Ribas. Rio de Janeiro: B. L. Garnier – Livreiro-Editor, 1883, p. 2.
[20] SARDINHA, António. Ao princípio era o Verbo. 2ª ed. Lisboa: Editorial Restauração, 1959, p. 10.
21] Idem. Ao ritmo da ampulheta. 1ª ed. Lisboa: Lumen, 1925, p. XXV. Grifos em itálico no original.
[22] VÁZQUEZ de Mella, Juan. Vázquez de Mella (antologia). Seleção, estudo preliminar e notas de Rafael Gambra. S/d, p. 22. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/29642956/Vzquez-de-Mella-Antologia. Acesso em10 de dezembro de 2010.
[23] SCIACCA, Michele Federico. Revolución, Conservadorismo, Tradición. In Verbo, nº 123, Madri, p. 283. Apud SOUSA, José Pedro Galvão de; GARCIA, Clovis Lema; CARVALHO, José Fraga Teixeira de. Dicionário de Política. São Paulo: T.A. Queiroz, 1998, p. 533.
[24] SANTOS, Arlindo Veiga dos. Sob o signo da fidelidade: Considerações históricas. São Paulo: Pátria-Nova, s/d, p. 4.
[25] Idem. Ideias que marcham no silêncio. São Paulo: Pátria-Nova, 1962, p. 76.
[26] BUZAID, Alfredo. A missão da Faculdade de Direito na conjuntura política atual. In Idem.Ensaios literários e históricos. São Paulo: Editora Saraiva, 1983, p. 228.
[27] VIANNA, Oliveira. Palavras de prefácio. In Idem. Populações Meridionais do Brasil (História-organização-psicologia). Vol. I (Populações rurais do centro-sul: paulistas, fluminenses, mineiros). 7ª ed. Belo Horizonte: Editora Itatiaia; Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, 1987, p. 13.
[28] Idem. Instituições políticas brasileiras, cit., p. 448. No mesmo sentido v., p. ex.: FRANCA, S. J., Leonel. A crise do Mundo Moderno. 2ª ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1942, pp. 34-38; SOUSA, José Pedro Galvão de; GARCIA, Clovis Lema; CARVALHO, José Fraga Teixeira de. Dicionário de Política. São Paulo: T.A. Queiroz, 1998, p. 370.
[29] Dentre os autores que trataram do vínculo indissolúvel que une a Nação e a Pátria à Tradição, podemos citar, dentre outros: SALGADO, Plínio. Nosso Brasil. 3ª ed. In Idem. Obras completas. 2ª ed., vol. 4. São Paulo: Editora das Américas, 1957, pp. 288-293; SOUSA, José Pedro Galvão de; GARCIA, Clovis Lema; CARVALHO, José Fraga Teixeira de. Dicionário de Política, cit., loc. cit.
[30] PIMENTA, Alfredo. In CAMPOS, Fernando (Org.). Os nossos mestres ou Breviário da Contrarrevolução: Juízos e depoimentos. Lisboa: Portugália Editora, 1924, p. 147.
[31] VIANNA, Oliveira. Instituições políticas brasileiras, cit., p. 412.
[32] ELÍAS DE TEJADA, Francisco. Meditação brasileira no centenário de Farias Brito. Separata da Revista Convivium, ano I, nº 6, vol. I, São Paulo, 1962, p. 15
[33] VIANNA, Oliveira. Prefácio. In Idem. O idealismo da Constituição. 1ª ed. Rio de Janeiro: Edição Terra de Sol, 1927, p. 13.
[34] Idem. O problema da revisão e a luta contra o espírito de facção. In idem. Problemas de política objetiva. 3ª ed. Introdução de Alberto Venâncio Filho. Rio de Janeiro: Record, 1974, p. 39. Grifos em itálico no original.
[35] Idem. Os conselhos técnicos nos governos modernos. In idem. Problemas de política objetiva, cit., p. 147. Grifos em itálico no original.
[36] TELLES JUNIOR, Goffredo. A Democracia e o Brasil: Uma doutrina para a Revolução de Março. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1965, p. 14.
[37] Defendem o caráter hispânico do Brasil, dentre outros: SOUSA, José Pedro Galvão de. O Brasil no Mundo Hispânico. São Paulo: Ed. do autor, 1962; Idem. O Brasil e a integração hispano-americana (comunicação apresentada no Centro de Estudos Sociais e Políticos da Associação Comercial de São Paulo). In Digesto Econômico, n. 299, São Paulo, dezembro de 1982, pp. 45-70; FREYRE, Gilberto. O Brasileiro entre os outros hispanos: Afinidades e possíveis futuros nas suas inter-relações. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975; SARDINHA, António. A aliança peninsular: Antecedentes e possibilidades. 3ª ed. Lisboa: qp, 1975, p. LXXXIII; ELÍAS DE TEJADA, Francisco. La Tradición portuguesa: los orígenes (1140-1521). Madri: Fundación Francisco Elías de Tejada y Erasmo Pèrcopo y Editorial ACTAS, s.l. , 1999, p. 37; MAEZTU, Ramiro de. Defensa de la Hispanidad. Capítulo I: La Hispanidad y su dispersión. Disponível em: http://hispanidad.tripod.com/maezt3.htm. Acesso em. 20 de novembro de 2011.
[38] BARBUY, Heraldo. Não se fabrica uma sociedade. In Reconquista, ano I, nº 12, São Paulo, maio de 1953, p. 1.
[39] VIANNA, Oliveira. Instituições políticas brasileiras, cit., pp. 416-417.
[40] BARRETO, Tobias. Estudos de Direito e Política. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1962, p. 204.
[41] VICO, Giambattista. Scienza Nuova, 134. In Idem. Autobiografia, Poesie, Scienza Nuova. 3ª ed. Milão: Garzanti, 2006, p. 246.
[42] PRADO, Eduardo. A ilusão americana. 2ª ed. Prefácio de Augusto Frederico Schmidt. Rio de Janeiro: Livraria Civilização Brasileira S.A., 1933, p. 61.



* Comunicação apresentada no "III Simpósio de Filologia e Cultura Latino-Americana", promovido pelo PROLAM/USP e pelo Núcleo de Pesquisa “América” e realizado nos dias 28, 29 e 30 de novembro de 2011, na sala de videoconferências de Filosofia e Ciências Sociais, na Cidade Universitária, em São Paulo.

Também pode ser lido em:


OU


Publicado orginalmente em 11 de Dezembro de 2011.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Delenda Olavo! Pelo Bem do Brasil!

Victor Emanuel Vilela Barbuy

Lemos há alguns dias um artigo de Sidney Silveira, no blogue Contra Impugnantes, em que ficamos sabendo de mais uma “pérola” do “filósofo” Olavo de Carvalho. Em seguida, fomos diretamente ao sítio pessoal do autor de O jardim das aflições e lemos o texto que contém a referida “pérola”, que se constitui na afirmação de que o “neotomismo de Leão XIII” não seria uma filosofia, mas uma ideologia, um programa de ação coletiva destinado “a moldar ou remoldar o mundo” segundo as aspirações de seu tempo e de seus “mentores”, não tendo, pois, a intenção de interpretar o mundo, mas sim de transformá-lo.

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Publicado originalmente em 18 de Julho de 2011.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O Integralismo, escola de nobreza espiritual

Victor Emanuel Vilela Barbuy

Nós outros, Integralistas, proclamamos que o Homem tem o seu valor medido por seus feitos e suas virtudes e não pelo poder ou os bens materiais que possui, uma vez que temos plena consciência de que tal poder e tais bens não são, ao contrário dos bens do Espírito, bons em si e por si próprios, sendo legítimos apenas quando e enquanto ordenados ao Bem Comum. Noutros termos, entendemos que a Pessoa Humana não vale por aquilo que tem, mas sim por aquilo que é e por aquilo que realiza em prol do Bem Geral, e a propriedade das riquezas terrenas está condicionada ao cumprimento dos deveres que tem o proprietário para com a Sociedade, do mesmo modo que só é lídimo o poder que promove o engrandecimento do Bem Social.

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Ou o mesmo Texto, porém, sem as notas de rodapé em



Publicado originalmente em Dezembro de 2012.

Sobre o dossiê "nazismo no Brasil"

Victor Emanuel Vilela Barbuy

No artigo Entre a suástica e a palmatória, de Alice Melo, que consta do Dossiê Brasil nazista, publicado na edição nº 88 da Revista de História dBiblioteca Nacional, de janeiro de 2013, há uma clara confusão entre o Integralismo e o Nacional-Socialismo, movimentos bastante diversos, como, aliás, fica claro a qualquer um que compreender o artigo Fora do Eixo, de Francisco Eduardo Alves de Almeida, que, publicado no mesmo dossiê, assinala que a maior parte dos marinheiros da Marinha do Brasil era ligada ao Integralismo, ao mesmo tempo em que sublinha o fato de ser insignificante o número de marinheiros simpatizantes do Nacional-Socialismo.

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Publicado originalmente em 02 de Fevereiro de 2013.





Pela recatolização da Pontifícia Universidade Católica

Victor Emanuel Vilela Barbuy

Na última sexta-feira, dia 22 de fevereiro, tivemos nós, juntamente com alguns outros membros da Frente Integralista Brasileira (FIB), a honra de assistir à Missa da Festa da Cátedra de São Pedro, celebrada na capela da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) pelo Cardeal-Arcebispo de São Paulo e Grão-Chanceler daquela instituição de ensino, D. Odilo Pedro Scherer. Do mesmo modo, tivemos o honor de tomar parte no Ato de Dignificação da Cruz, celebrado no mesmo pátio em que, há alguns meses, um grupo de agitadores, muitos dos quais sequer alunos da PUC-SP, promoveu um desrespeitoso ato contra aquela universidade e a própria Igreja Católica Apostólica Romana, ato este que foi motivado pela decisão absolutamente legal e legítima de D. Odilo de nomear a Doutora Anna Maria Marques Cintra Reitora da supramencionada universidade e em que se chegou mesmo a ser decapitado um boneco que representava o Romano Pontífice Bento XVI.

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Publicado originalmente em 28/02/2013.

Algumas palavras a respeito do Papa Francisco

Victor Emanuel Vilela Barbuy

Foi com profunda surpresa que nós outros recebemos, na tarde da última quarta-feira, dia 13 de março do ano da Graça do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2013, a inesperada notícia de que o Cardeal D. Jorge Mario Bergoglio, nascido em Buenos Aires no ano de 1936, acabara de ser eleito o novo Papa, adotando o nome de Francisco, em homenagem a São Francisco de Assis. Tal surpresa se deu, evidentemente, em virtude de até então muito pouco conhecermos a respeito do Cardeal Bergoglio, que, aliás, praticamente ninguém apontaria como um papabile antes deste Conclave, ainda que em 2005 tivesse sido ele o principal adversário do Cardeal Joseph Ratzinger no Conclave em que este último fora eleito Papa.

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Publicado originalmente em 20/03/2013.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

João de Scantimburgo - in memorianm

Victor Emanuel Vilela Barbuy

Faleceu no dia 22 de março deste ano de 2013, aos noventa e sete anos de idade, o jornalista, ensaísta, filósofo, historiador, sociólogo e romancista paulista e brasileiro João de Scantimburgo.
Infelizmente pouco conhecido das novas gerações brasileiras em virtude, antes de tudo, do manto de silêncio com que a dita inteligência nacional criminosamente cobriu seu nome (...).  Continuar a leitura em



Publicado originalmente em 14 de Abril de 2012.

Posição do Integralismo em face do racismo

Victor Emanuel Vilela Barbuy

Celebramos, no último dia 13 de Maio, os cento e vinte cinco anos da assinatura da Lei Áurea, gesto grandioso que marcou o fim do ignominioso sistema escravista no Brasil e pelo qual a Princesa Isabel, a partir de tal momento cognominada a Redentora, trocou o Trono pela redenção de toda uma estirpe,  inscrevendo em letras de ouro seu nome não apenas na História Pátria, mas também na História Universal, e sendo por tal ação agraciada, pelo Papa Leão XIII, com  a Rosa de Ouro, ofertada pelo Sumo Pontífice a soberanos e personalidades católicas insignes. Celebramos, do mesmo modo, o quarto aniversário do nosso Manifesto de 13 de Maio (...).  Continuar a leitura em



Publicado originalmente em 15 de Maio de 2013.

Guerra Interior e Revolução Interior

Victor Emanuel Vilela Barbuy

Cada Homem, cada Ente Humano vive, dentro de si, uma guerra constante, de cujas silenciosas batalhas diárias se sai vencedor ou derrotado. Esta Guerra Interior só termina, com o triunfo ou a derrota final, no momento em que a Alma, o Espírito Imortal se desprende do corpo já inerte, ainda que existam homens totalmente derrotados desde muito antes de exalar o derradeiro suspiro. São estes os mortos que ainda respiram, os fracos que se deixam levar pela correnteza, os infelizes que, (...).  Continuar a leitura em


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Publicado originalmente em Abril de 2013.

A real natureza dos conflitos na Síria

Victor Emanuel Vilela Barbuy

Há já mais de dois anos que terroristas e mercenários islâmicos, apoiados, cada vez mais abertamente, pelas potências imperialistas do Ocidente e seus satélites no Oriente Médio, assim como pelo Estado sionista de Israel, transformaram a antes próspera e pacífica República Árabe da Síria em um campo de batalha, pretendendo derrubar, pela força das armas, o legítimo governo sírio e implantar, em seu lugar, um governo fundamentalista. Cumpre assinalar que tais terroristas e mercenários são, em sua absoluta maioria, estrangeiros, sendo, com efeito, sírios apenas 05% de tais rebeldes, segundo relatório do insuspeito serviço de inteligência alemão, (...).  Continuar a leitura em


http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=229

Publicado originalmente em 13 de Junho de 2013.

Por um novo Movimento Constitucionalista

Victor Emanuel Vilela Barbuy

Neste dia 09 de Julho, a Frente Integralista Brasileira presta merecida homenagem a todos os brasileiros que se levantaram contra a ditadura varguista, em 1932, e particularmente àqueles que tombaram na luta por um Brasil Maior e àqueles que – a exemplo de Miguel Reale e José Loureiro Júnior – praticamente saíram das trincheiras da Revolução Constitucionalista direto para as fileiras do Integralismo, (...).  Continuar a leitura em



Publicado originalmente em 09 de Julho de 2013.

Resposta ao portal Último Segundo

Victor Emanuel Vilela Barbuy

O portal Último Segundo, do iG, veiculou, na noite da última quarta-feira, dia 10 de julho, informações equivocadas a respeito da "Marcha da Família com Deus, em defesa da Vida, da Liberdade, da Pátria e da Democracia, contra o comunismo", assim como da Frente Integralista Brasileira (FIB) e do Integralismo. Continuar a leitura em



Publicado originalmente em 14 de Julho de 2013.

Um fantasma ronda o Brasil

Victor Emanuel Vilela Barbuy

Parafraseando o Manifesto Comunista de Karl Marx e Friedrich Engels, podemos dizer que um fantasma ronda o Brasil – o fantasma do Integralismo. Tal espectro vem aterrorizando liberais, anarquistas e, principalmente, comunistas, sobretudo aqueles que têm participado das últimas manifestações ocorridas em todo o País e no meio das quais não passam de uma ínfima minoria, incapaz de erguer suas bandeiras vermelhas sem provocar a repulsa da esmagadora maioria dos manifestantes, composta de autênticos patriotas, nacionalistas e tradicionalistas, conscientes ou não. Continuar a leitura em



Publicado originalmente em 23 de Julho de 2013.

Miguel Reale, o poeta

Victor Emanuel Vilela Barbuy

Muito mais conhecido e evocado como o magno poeta em prosa de Iracema (1865), o exuberante romancista de O guarani (1857), As minas de prata (1865-1866[1]), O tronco do ipê (1871), Ubirajara(1874) Senhora (1875) e tantas outras verdadeiras obras-primas, que insculpem em letras de ouro seu nome na Literatura Pátria, em cujo universo se constitui em astro de primeira grandeza, (...). Continuar a leitura em


Publicado originalmente em 19 de Agosto de 2013.

Tradição e hispanidade em Gilberto Freyre

Victor Emanuel Vilela Barbuy

Nascido no Recife em 15 de março de 1900, sendo filho do Sr. Dr. Alfredo Freyre e de D. Francisca de Mello Freyre, Gilberto Freyre estudou no Colégio Americano Gilreath (atual Colégio Americano Batista), de que seu pai, Juiz de Direito e futuro Professor Catedrático de Economia Política da Faculdade de Direito do Recife, fora, em 1905, um dos fundadores, ao lado de missionários batistas norte-americanos, e do qual era, ainda, diretor e professor de diversas disciplinas.
            Em 1914, já havendo lido as principais obras de autores como José de Alencar, Machado de Assis, Gonçalves Dias, Castro Alves, Camões, Virgílio, Júlio César, Victor Hugo, Emerson e Milton, assim como alguns dos dramas de Shakespeare e sendo ainda aluno do curso secundário do Colégio Americano Gilreath, Gilberto Freyre, que aprendera latim com o próprio pai, naquela instituição, ali já lecionava o idioma de Ovídio e Horácio, ao mesmo tempo em que se tornava redator-chefe do jornal do colégio, intitulado O Lábaro.
            Três anos mais tarde, e depois de haver lido a Bíblia, assim como as obras de Cervantes, Eça de Queiroz, Alexandre Herculano, Oliveira Martins, Molière, Rui Barbosa, Joaquim Nabuco e Oliveira Lima, dentre outros autores d’aquém e d’além mar, incluindo entre estes últimos pensadores como Nietzsche, Spencer e Comte, o então futuro autor de Casa-grande e senzala se formou Bacharel em Ciências e Letras pelo Colégio Americano Gilreath, sendo o orador da turma, cujo paraninfo foi o historiador Oliveira Lima, de quem logo tornar-se-ia grande amigo. No discurso então proferido, e que seria publicado no Diário de Pernambuco e também em folheto da tipografia daquele colégio, sendo posteriormente transcrito no livro Região e Tradição, cuja primeira edição data de 1941, percebemos um forte sentimento patriótico, nacionalista, tradicionalista e regionalista, sendo tal regionalismo, chamado orgânico por José Lins do Rego,[1]um regionalismo equilibrado e construtivo, plenamente compatível com aquele nacionalismo igualmente ponderado e edificador e, assim como ele, tendente ao universalismo.
Em tal discurso, intitulado Adeus ao colégio, revelando ideias assaz semelhantes àquelas que seriam defendidas, nos anos seguintes, por Oliveira Vianna, Freyre criticou duramente o ideologismo abstrato das elites dirigentes brasileiras, que não é senão a “política silogística” denunciada por Nabuco[2] e o “idealismo utópico” sobre o qual discorreria o autor de Instituições políticas brasileiras e de Populações meridionais do Brasil em obras como O idealismo da Constituição (1927, com segunda edição, revista e bastante aumentada, em 1939). Assim, proclamou o então futuro autor de Ordem e Progresso que “não é com palavras sutis e fórmulas livrescas que se faz uma nação grande e forte”, devendo “servir de dura lição”, às “terras de ideólogos”, o “triste fim de Bizâncio”,[3] e que “verdadeira praga de gafanhotos têm sido para o Brasil essas centenas de bacharéis filosofantes e palreiros, arvorados em dirigentes”,[4] lamentando, contudo, que tal “praga” fosse “estùpidamente” combatida com um discurso de cunho utilitarista.[5] Destarte, sustentou ele que não devemos ser “meros ideológos nem simples utilitários, mas idealistas práticos”, o que, em nosso sentir, equivale a dizer que temos o dever de ser adeptos daquilo a que Oliveira Vianna denominaria “idealismo orgânico”, idealismo este que se forma tão somente de realidade, se apoia tão somente na experiência e se orienta tão somente pela observação do povo e do meio,[6] afirmando, ainda, ser “tempo do Brasil desapegar-se das fórmulas vagas, procurando ver e observar os seus problemas em vez de ater-se ao que está escrito nos livros estrangeiros” e que “o Brasil quer homens”, quer “líderes de cultura e ao mesmo tempo capazes de ação”.[7]
            Ainda no ano de 1917, Gilberto Freyre se tornou protestante batista, o que desagradou à sua mãe, que era católica, enquanto o pai,  a despeito de professor de Latim Eclesiástico, Filosofia da Religião Cristã e Leitura Expressiva da Bíblia no Seminário do Norte, atual Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil,[8]localizado lá mesmo no Recife, era, segundo o próprio filho, teísta e espiritualista cristão sem filiação religiosa, ainda que sempre admirador da Igreja Católica Apostólica Romana, sendo, ademais, assíduo leitor, em latim, das obras dos Doutores da Igreja, dentre os quais Santo Agostinho gozava de sua predileção.[9]Provavelmente por influência paterna, leu, por essa época, Gilberto Freyre, dentre outros autores, a exemplo de Darwin, Tolstoi, William James, Bergson, Taine e Renan, Santo Tomás de Aquino, Santo Agostinho, São Francisco de Assis, São Francisco de Sales, São João da Cruz, Santa Teresa de Ávila, Padre Antônio Vieira e Padre Manuel Bernardes.
            No ano seguinte, partiu o futuro autor de Sobrados e mucambos para os Estados Unidos da América, onde se matriculou na Universidade de Baylor, instituição batista localizada em Waco, no Texas, e iniciou sua colaboração noDiário de Pernambuco, com a série de cartas Da outra América. Em 1920, formado Bacharel em Artes pela Universidade de Baylor e já havendo abandonado o protestantismo, seguiu para Nova Iorque, onde ingressou na Universidade de Colúmbia, na qual conquistou, em 1922, o grau de M.A. (Magister Artium ou Magister of Arts) com a tese intitulada Social life in Brazil in the middle of the 19th Century, que, publicada em Baltimore pela prestigiosaHispanic American Historical Review, mereceu elogios de professores como Oliveira Lima e Henry Louis Mencken. Neste último ano, viajou para a Europa, onde se demorou até 1923, visitando a Inglaterra, a França, a Alemanha, a Bélgica, a Espanha e Portugal, havendo tido contato, na França, com “movimentos surpreendentes pela sua mistura de defesa de tradição, no caso a monárquica, e de renovação”, por meio daquilo a que ele denomina “um novo e revolucionário federalismo”, como a Action Française,[10] já havendo então lido a obra de Charles Maurras, principal vulto deste movimento cívico-político patriótico, nacionalista, tradicionalista e monárquico francês, que muito influiu na obra do jovem Gilberto Freyre, particularmente nos conceitos de Tradição e de Regionalismo.
            Foi, porém, em Portugal que Gilberto Freyre mais se demorou, ali tendo contato com diversos intelectuais, alguns deles ligados ao grupo republicano da chamada Seara Nova, se configurando, no dizer de Freyre, na “‘ala dos namorados’ da democracia livre pensadora de Portugal”, e outros “’Integralistas’, isto é, “monárquicos ‘d’avant garde’”. Havia entre os primeiros, segundo o autor, “indivíduos de notável talento”, a exemplo de António Sérgio e Câmara Reys, mas “só um obsevador desequilibrado pela mais rasgada parcialidade de sentimento negaria à ala oposta, aos antidemocratas, o encarnarem, neste momento, a melhor inteligência e a maior bravura de ação portuguesas”. Assim, prossegue o então jovem colunista recifense, “os Srs. Fidelino de Figueiredo, Conde de Monsaraz, Antônio Sardinha e Afonso Lopes Vieira bastariam, isolados, para dar ao grupo antiliberal sumo prestígio, sob todos os pontos de vista”.[11]
            No entender de Freyre, que voltou para o Brasil fortemente influenciado pelas ideias do Integralismo Lusitano, movimento de cujo principal doutrinador e líder, António Sardinha, se fizera mesmo amigo, ainda que o tendo conhecido apenas por meio de cartas, “o movimento antiliberal português, longe de ser puroesprit de minorité, é um esforço consciente de reintegração nacional”, de “reintegração do país no seu caráter e nas suas tradições, desfiguradas como por uma espessa camada de cem anos de constitucionalismo acaciano e, ultimamente, de delírio demagógico”. Destarte, partindo do pressuposto de que a República estava, em Portugal, fazendo tábula rasa da Tradição, querendo que o povo olvidasse “o antigo regime”, como notara Oliveira Lima, em sua primeira correspondência de Lisboa ao jornal portenho La Prensa, salienta Freyre que contra isto se insurgia “a inteligência crítica das gerações mais novas”, especialmente dos “chamados integralistas”. “Querem o regresso absoluto ao passado?”, indaga nosso autor. “Muito ao contrário, responde voz autorizada do grupo; pedimos à experiência do que foi as normas seguras do que deve ser”.[12]
            Isto posto, cumpre assinalar que o Integralismo Lusitano, cujas ideias eram, no dizer do republicano, apologista da maçonaria e, como tal, insuspeito poeta Fernando Pessoa, “as únicas com sistema e coerência”[13] no Portugal de então, difere do Integralismo Brasileiro mais tarde surgido pelo fato deste último não ser católico-confessional e não reivindicar, no Brasil, a restauração monárquica, reunindo tanto monarquistas quanto republicanos, assim como tanto católicos quanto membros de outras confissões religiosas, no que, aliás, estava plenamente de acordo com a posição do Papa Pio XI, que, na Encíclica Caritate Christi Compulsi, de 1932, pregou a formação de uma frente ampla espiritualista, que deveria unir, no combate sem tréguas ao materialismo, não apenas católicos e cristãos em geral, mas todos aqueles que fizessem da crença em Deus a base de toda a ordem social.[14] A despeito, porém, de tais diferenças, sempre houve profunda admiração dos principais vultos do Integralismo Lusitano pelo Integralismo Brasileiro e vice-versa, havendo, por exemplo, Hipólito Raposo, um dos mais importantes líderes e doutrinadores do Integralismo Lusitano, se referido a Plínio Salgado, principal líder e doutrinador do Integralismo Brasileiro, como “o mais eloqüente intérprete da Brasilidade”,[15] enquanto Gustavo Barroso, segundo maior doutrinador e líder do Integralismo Brasileiro, se referiu a António Sardinha, já falecido quando do surgimento do Integralismo d’aquém mar, como um “grande mestre”.[16]
Quanto a Gilberto Freyre, se, por um lado, esteve este assaz longe de admirar o Integralismo Brasileiro da mesma forma que um dia admirara o Integralismo Lusitano, por outro, sublinhou, no opúsculo Uma cultura ameaçada: a luso-brasileira, o seu caráter antirracista, segundo ele “um dos pontos simpáticos e essencialmente brasileiros daquele movimento”,[17] e, na obra Problemas brasileiros de Antropologia, ao falar do “espírito bandeirante”, ou “bandeirismo”, por ele muito admirado, cita Plínio Salgado entre os pensadores paulistas que se revelaram expressões não somente intelectuais como também políticas de “bandeirismo ortodoxo”,[18] o considerando, ademais, um dos mais eminentes vultos de toda uma grande “geração de paulistas interessados nos seus valores tradicionais mais característicos” e que, se entregando “a estudos sérios e profundos de História ou Sociologia regional”, desenvolveu “esforço inteligente e útil de conservação, restauração e interpretação dos mesmos valores ou do seu aproveitamento como motivos original ou particularmente paulistas de arte, de literatura, de sátira social”, evitando que São Paulo, “por excesso de ‘modernismo’ desdenhoso do passado ou dos valores regionais, se tornasse, sob os arrojos da industrialização”, que o diferenciavam do restante do Brasil, um simples “arremedo de ‘progresso americano’ ou de ‘progresso norte-europeu’”.[19]
Ao voltar para o Brasil, em março daquele ano de 1923, Gilberto Freyre, que, a 22 de abril iniciaria uma série de artigos numerados publicados no Diário de Pernambuco até 15 de abril de 1925, se destacou como um dos principais defensores do tradicionalismo político em nosso País, revelando, nestes e noutros artigos dados à estampa naquele prestigioso jornal recifense e em outros periódicos, ideias profundamente influenciadas por aquelas de autores tradicionalistas (por ele neste período sempre evocados) como Joseph De Maistre, Louis De Bonald, Charles Maurras, Léon Daudet, Maurice Barrès, G. K. Chesterton (de cuja obra se ufanava de ser um dos pouquíssimos conhecedores no País), Eduardo Prado, Oliveira Lima, Jackson de Figueiredo, Padre Leonel Franca, e, sobretudo, António Sardinha (de quem foi, ao lado de Jackson de Figueiredo, o primeiro grande admirador em terras brasileiras) e outros intelectuais pertencentes ao Integralismo Lusitano, como Hipólito Raposo, Afonso Lopes Vieira, Manuel Múrias e o Conde de Monsaraz, ou dele simpatizantes, a exemplo de Fidelino de Figueiredo.
O jovem tradicionalista pernambucano de que ora falamos, como Maurras, a despeito de não ser então católico, possuía profundas “simpatias pela tradição Católica”,[20] sendo mesmo um “enamorado” da “Igreja de Roma”,[21] fazendo salientar, em artigo publicado no Diário de Pernambuco a 06 de setembro de 1925, que “nenhum ensino no Brasil pode ser honesto – seja público ou privado – que não reconheça a intensidade heróica da ação católica nos começos da nacionalidade brasileira”,[22] e afirmando, cheio de júbilo, que “o ritmo da influência Católica no Brasil se acelera” e que “a força Católica cada dia se acentua em sulcos mais fundos sobre a fisionomia da nação brasileira”, aparecendo, em nosso País

tipos de “leader” vigorosos e intensos, que lhe escasseavam melancolicamente, no clero como entre os leigos. Na mocidade dos Padre Leonel Franca e dos Jackson de Figueiredo esplendem flamas de uma claridade nova. Nunca o Catolicismo no Brasil se aproximou tanto como se vai nestes dias aproximando, do espírito de Dom Frei Vital. Do grande e heróico espírito de Frei Vital.[23]

            Apesar de admirador da Action Française, reputando haver “nas idéias de reação, ou antes de reconstrução de Ch. Maurras certo sentido universal”, Gilberto Freyre considerava ser preciso não esquecer que tais ideias “representam a sistematização de um grupo de idéias para aplicação a determinada situação mórbida: a vida francesa desorganizada pelo liberalismo e pela centralização”. Repetidamente, prossegue o então jovem articulista do Diário de Pernambuco, Maurras, no “grande livro que é a Enquête sur La Monarchie”, “frisa e sublinha este critério particularmente francês do esforço reconstrutor que sua inteligência dirige e seu fino sentimento de pátria anima”.[24] Assim, tendo em vista o nosso caráter e a nossa Tradição, concorda Freyre com seu amigo e admirador José Lins do Rego, que, em artigo publicado na revista Era Nova, da Paraíba, afirmara serem António Sardinha e Fidelino de Figueiredo “melhores mestres para o Brasil” do que os pensadores antiliberais franceses, sustentando, pois, que a aproximação dos jovens brasileiros já descrentes na liberal-democracia “deve ser antes com o movimento não sei se diga ‘reacionário’ português, ou hispânico, que com o francês”, de sorte que “ao nosso esforço de retificação mental e de reorganização moral e política” aquilo que “primeiramente convém é o critério hispânico, que nos integre no sentimento hispânico e na tradição sociologicamente católica”. Daí observar o então futuro autor de O brasileiro entre outros hispanos que, “caso tivesse autoridade, o que muito recomendaria ao adolescente brasileiro, tocado pelo desencanto do liberalismo, seria a leitura de Menendez y Pelaio [sic], de Gama e Castro, de Angel Ganivet, de J. Lúcio de Azevedo, de Fidelino, de Sardinha”.[25]
            O nosso jovem pensador tradicionalista, regionalista, patriótico e nacionalista, defensor da sociedade orgânica, da Monarquia Tradicional e das tradições católicas hispano-luso-brasileiras, e, como tal, adversário das ideias liberais e comunistas, que reputava contrárias à Tradição Nacional, assim como da própria República, ou, como dizia ele, do “regime de 89”, que, em seu sentir, ainda fedia a goma arábica,[26] sofreu, nesta fase de sua atividade intelectual, antes e acima de qualquer outra, a influência de António Sardinha. Neste admirava tanto o autor de “uma poesia cheia de nobreza intelectual” quanto o autor de “notaveis trabalhos de erudição e revisão histórica” e o doutrinador e homem de ação em torno do qual “estavam reunidas algumas das melhores forças jovens de Portugal, a intelligencia do velho paiz, desejosa de o reintegrar na sua tradição, na sua historia, na sua natureza de povo hispanico”, pertencendo, com efeito, à revista de cultura nacionalista e monárquica Nação Portuguesa, por ele dirigida e na qual o próprio Freyre chegara a colaborar, diversos “talentos moços, clarificados pela doutrina intelligentemente nacionalista do jovem mestre”.[27]  Esta influência se fez sentir sobre diversos aspectos do pensamento freyriano, mas particularmente sobre suas visões acerca da Tradição e da Hispanidade, termo que deriva de Hispânia, nome que os antigos cartógrafos davam a toda a península ora conhecida como Hispânica, ou Ibérica, e, evidentemente, foi muito mais intensa no período que vai de 1923 a 1926 e que é marcado por aquilo a que, empregando uma expressão sua, podemos denominar “fervor tradicionalista”,[28] fervor este que animou não apenas os artigos publicados no Diário de Pernambuco e em outros periódicos, a exemplo daRevista do Norte, também do Recife, da revista Nação Portuguesa, de Lisboa, e da Revista do Brasil, de São Paulo, dirigida por Monteiro Lobato e Paulo Prado, mas também, dentre outras coisas, a fundação, em 1924, do Centro Regionalista do Nordeste, onde se cogitou, no dizer de Lins do Rego, “dum nacionalismo de bom gosto como já fora aquele de Eduardo Prado”;[29] a publicação, em 1925, do Livro do Nordeste, obra comemorativa do centenário do Diário de Pernambuco que reuniu, além de diversos ensaios, dois dos quais de sua lavra, o célebre poema Evocação do Recife, de Manuel Bandeira, e, por fim, a realização, em 1926, na capital pernambucana, do Congresso Regionalista.
            A despeito, contudo, das mudanças que sofreu, nos anos seguintes, o pensamento do autor de Um brasileiro em terras portuguesas, a influência que sobre ele exerceu a obra de António Sardinha não se restringiu à mocidade, estando, com efeito, presente até o final de sua vida. Tanto que, vinte e oito anos após a morte do autor de A aliança peninsular no livro Aventura e rotina, cuja primeira edição data de 1953, ainda se refere elogiosamente a este “homem de combate”, em quem “aconteceu o transbordamento em homem de letras de uma personalidade marcada pelo fervor combativo” ou por uma “maneira pessoal de reagir contra convenções a seu ver desnacionalizantes ou desispanizantes do português”, assim como “a favor de tradições, no seu entender, essenciais à conservação do espírito nacional e do espírito hispânico, na gente portuguesa”.[30] Do mesmo modo, ainda como Sardinha, partindo da hispanidade do Mundo Lusíada, no qual se insere o Brasil, publicou o autor de Nordeste, em 08 de julho de 1961, na revista O Cruzeiro, do Rio de Janeiro, o artigo intitulado Brasil, nação hispânica no trópico, e, em 1975, lançou o livro O brasileiro entre os outros hispanos. Destarte, sem dúvida ainda concordava ele em idade provecta com sua afirmação da mocidade no sentido de que devemos dividir com a Espanha “o amor que nos prende a Portugal”, país que só deve “ser estudado como parte da Espanha”,[31] da Espanha-Madre de que nos fala Sardinha, frase que só causa estranheza àqueles que não se lembram de que Camões chamou os portugueses"Huma gente fortissima de Espanha",[32] da mesma forma que o país a que denominamos Espanha seria incompleto caso “do seu estudo se isolasse o de Portugal”.[33] Ainda julgaria, outrossim, que nós outros, “os povos da América hispânica”, devemos, animados pelo “patriotismo pan-hispânico” - fortalecido, em 1926, pelo voo transatlântico do Major Ramón Franco, irmão do então futuro Caudilho de Espanha, a bordo do hidroavião Plus Ultra - devemos nos aproximar de “nossas pátrias de origem”, isto é, de Espanha e Portugal, “para que num mais vivo contacto com o seu espírito, entre nós se fortaleça a personalidade hispânica”.[34] E, por derradeiro, até o final de sua existência foi o autor deRegião e Tradição um ardoroso defensor da Tradição, sempre insistindo, como Sardinha, no caráter dinâmico desta,[35] que, segundo o poeta, pensador e homem de ação português, representa a “continuidade no desenvolvimento”, a “permanência na renovação”,[36] traduzindo, pois, filosófica e historicamente, “dinamismo continuidade”.[37]
Considerando, como Sardinha, que a hispanidade representa “a unidade cultural e social do elevado destino que Portugal e Castela nobremente conseguiram no Universo, dilatando com a Fé e o Império o mesmo ideal superior da civilização”,[38] Gilberto Freyre, para quem “o hispanismo não é para nós, nova gente da América Hispânica, nenhum melancólico e exagerado culto do passado”, mas “uma força de vida a nos oferecer o mais belo e o mais congenial dos ritmos para a disciplina da nossa jovem e dispersa energia”,[39] palavras estas que podiam bem definir também a Tradição, foi o primeiro grande cruzado, no Brasil, do hispanismo, assim como em Portugal o foram Fidelino de Figueiredo e António Sardinha. Isto posto, cumpre salientar que o próprio termo “hispanidade”, aplicado ao conjunto das nações hispânicas, grupo este, que, na opinião dos mais autorizados hispanistas de Portugal e de Espanha, inclui também o Mundo Lusíada, havia então surgido apenas recentemente. Entre nós, da América Luso-Brasileira, parte da América Hispânica tanto quanto a América de formação castelhana, podemos indicar, como um dos precursores de tal movimento, Silveira Martins, que, no Parlamento do Império, afirmou, em 1875, pertencer o brasileiro à “raça espanhola”,[40] decerto havendo tomado o termo “raça” em sentido amplo e sobretudo espiritual.
 Gilberto Freyre, para quem “um povo só se mantém pela intolerância no que diz respeito à sua tradição e ao seu sentimento”, em tal “esfera de valores espirituais a tolerância” não significando senão “desorientação, suicídio nacional, renúncia da personalidade”,[41] foi, ademais, um dos primeiros cruzados do tradicionalismo político no Brasil, havendo sido comparado por José Lins do Rego, em artigo publicado em Era Nova no mês de setembro de 1924, a Jackson de Figueiredo, sendo na companhia de ambos  os autores, exemplo de “bom-senso”, segundo o então futuro autor de Menino de engenho, que a nova geração brasileira daquele tempo estava de “ânimo feito” para “refazer o Brasil”.[42]Exercendo profunda influência junto aos meios intelectuais recifenses em meados dos anos 1920, foi ele, de certa forma, um precursor do grupo tradicionalista que, na década seguinte, teve considerável força na capital pernambucana, ali editando, entre 1931 e 1940, o jornal Fronteiras, que, sob o lema “ordem; autoridade; nação”, foi dirigido por Manuel Lubambo e Vicente do Rego Monteiro, este último – célebre pintor modernista, autor do Manifesto dos artistas do Brazil pró restauração monarchica, publicado naquele jornal em 1935, e adepto do Integralismo Brasileiro a partir de meados daquele decênio – amigo de Freyre, a quem conhecera na Europa, em 1922, e que sobre ele escrevera um ensaio aparecido na Revista do Brasil em 1923. Já havendo, porém, na década de 1930, o controvertido autor de Casa-grande e senzala, abandonado a defesa das tradições católicas pátrias e do tradicionalismo político e sofrido a influência de ideias liberais e também socialistas, o jornal Fronteiras o atacou duramente em diversas ocasiões, a ele se referindo, por exemplo, na edição de novembro de 1936, como um “ex-agitador e agora burguês”.[43]



[1] REGO, José Lins do. Prefácio. In FREYRE, Gilberto. Região e Tradição. 2ª ed. Rio de Janeiro: Gráfica Record Editora, 1968, p. 33.
[2] NABUCO, Joaquim. Balmaceda. São Paulo: Companhia Editora Nacional. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira S.A., 1937, p. 15. O autor de O abolicionismo e de Um estadista do Impériodefine tal política, na página citada, como a “pura arte de construção no vácuo”, tendo, como base, “teses, e não fatos”, como material, “ideias, e não homens”, como situação, “o mundo, e não o país” e, como habitantes, “as gerações futuras, e não as atuais”.
[3] FREYRE, Gilberto. Região e Tradição. 2ª ed. Rio de Janeiro: Gráfica Record Editora, 1968, p. 75.
[4] Idem, p. 76.
[5] Idem, loc. cit.
[6] VIANNA, Oliveira. O idealismo da Constituição. 2ª ed. Aumentada. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1939, pp. 12-13.
[7] FREYRE, Gilberto. Região e Tradição. 2ª ed. Rio de Janeiro: Gráfica Record Editora, 1968, p. 77.
[8] MESQUITA, A. N. História dos baptistas em Pernambuco. Recife: Typographia do C. A.. B, 1930, p. 186.
[9] FREYRE, Gilberto. Meu pai. Disponível em:http://bvgf.fgf.org.br/frances/obra/opusculos/meu_pai.htm. Acesso em 04 de maio de 2013.
[10] FREYRE, Gilberto. Introdução do autor. In Idem. Tempo de aprendiz: artigos publicados em jornais na adolescência e primeira mocidade do autor: 1918-1926. Nota do organizador José Antonio Gonsalves de Mello; prefácio de Nilo Pereira; introdução do autor. Vol. I. São Paulo: IBRASA; Brasília: INL, 1979, p. 35.
[11] Idem. Tempo de aprendiz: artigos publicados em jornais na adolescência e primeira mocidade do autor: 1918-1926. Nota do organizador José Antonio Gonsalves de Mello; prefácio de Nilo Pereira; introdução do autor. Vol. I. São Paulo: IBRASA; Brasília: INL, 1979, p. 277.
[12] Idem, p. 278.
[13] PESSOA, Fernando. Da República (1910-1935). Recolha de textos: Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução e organização de Joel Serrão. Lisboa: Ática, 1978, p. 354.
[14] PIO XI. Encíclica Caritate Christi Compulsi. Disponível (em italiano) em:http://www.vatican.va/holy_father/pius_xi/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_19320503_caritate-christi-compulsi_it.html. Acesso em 04 de maio de 2013.
[15] RAPOSO, Hipólito. A notável oração do Dr. Hipólito Raposo. In Uma reportagem histórica(pubicada originalmente no jornal Voz, de Lisboa, a 23 de junho de 1946). In VV.AA. Plínio Salgado: “in memoriam”. Vol. II. São Paulo: Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1986, p. 189.
[16] BARROSO, Gustavo. Portugal, semente de impérios. Rio de Janeiro: Editora Getúlio Costa, s/d (1943), p. 109.
[17] Freyre, Gilberto. Uma cultura ameaçada: a luso-brasileira, 2ª ed., Casa do Estudante do Brasil, Rio de Janeiro, 1942, p. 88.
[18] FREYRE, Gilberto. Problemas brasileiros de Antropologia. 3ª ed. Prefácio de Gonçalves Fernandes. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1962, p. 42.
[19] Idem, p. 72.
[20] Idem. Introdução do autor. In Idem. Tempo de aprendiz: artigos publicados em jornais na adolescência e primeira mocidade do autor: 1918-1926. Nota do organizador José Antonio Gonsalves de Mello; prefácio de Nilo Pereira; introdução do autor. Vol. I. São Paulo: IBRASA; Brasília: INL, 1979, p. 35.
[21] Idem. Região e Tradição. 2ª ed. Rio de Janeiro: Gráfica Record Editora, 1968, p. 49.
[22] Idem. Desvio de força (artigo publicado no Diário de Pernambuco a 06 de setembro de 1925). In Idem. Tempo de aprendiz: artigos publicados em jornais na adolescência e primeira mocidade do autor: 1918-1926. Nota do organizador José Antonio Gonsalves de Mello; prefácio de Nilo Pereira; introdução do autor. Vol. II. São Paulo: IBRASA; Brasília: INL, 1979, p. 203.
[23] Idem, p. 202.
[24] Idem. Sugestões a um livreiro (artigo publicado no Diário de Pernambuco a 18 de junho de 1925). In Idem. Tempo de aprendiz: artigos publicados em jornais na adolescência e primeira mocidade do autor: 1918-1926. Nota do organizador José Antonio Gonsalves de Mello; prefácio de Nilo Pereira; introdução do autor. Vol. II. São Paulo: IBRASA; Brasília: INL, 1979, p.175.
[25] Idem p. 176.
[26] Idem. 34 (artigo publicado no Diário de Pernambuco a 09 de dezembro de 1923). In Idem.Tempo de aprendiz: artigos publicados em jornais na adolescência e primeira mocidade do autor: 1918-1926. Nota do organizador José Antonio Gonsalves de Mello; prefácio de Nilo Pereira; introdução do autor. Vol. I. São Paulo: IBRASA; Brasília: INL, 1979, p.343.
[27] Idem. Antonio Sardinha (artigo originalmente publicado na Revista do Norte, ano I, nº 1, Recife, 1925, pp. 5-6). Disponível em:http://www.angelfire.com/pq/unica/il_gf_antonio_sardinha_por_gilberto.htm. Acesso em 05 de maio de 2013.
[28] Idem. Rua Larga do Rosário (artigo originalmente publicado no Diário de Pernambuco a 02 de novembro de 1926. In Idem. Tempo de aprendiz: artigos publicados em jornais na adolescência e primeira mocidade do autor: 1918-1926. Nota do organizador José Antonio Gonsalves de Mello; prefácio de Nilo Pereira; introdução do autor. Vol. II. São Paulo: IBRASA; Brasília: INL, 1979, p. 246.
[29] REGO, José Lins do. Era Nova, ano V, nº 80, Paraíba, junho de 1925.
[30] FREYRE, Gilberto. Aventura e rotina: sugestões de uma viagem a procura das constantes portuguesas de caráter e ação. 1ª edição. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1953, p. 114.
[31] Idem. Tierra! (artigo originalmente publicado no Diário de Pernambuco a 29 de janeiro de 1926). In Idem. Tempo de aprendiz: artigos publicados em jornais na adolescência e primeira mocidade do autor: 1918-1926. Nota do organizador José Antonio Gonsalves de Mello; prefácio de Nilo Pereira; introdução do autor. Vol. II. São Paulo: IBRASA; Brasília: INL, 1979, p. 258.
[32] CAMÕES, Luís Vaz de. Os LusíadasCanto I, estrofe XXXI.
[33] FREYRE, Gilberto. Tierra! (artigo originalmente publicado no Diário de Pernambuco a 29 de janeiro de 1926). In Idem. Tempo de aprendiz: artigos publicados em jornais na adolescência e primeira mocidade do autor: 1918-1926. Nota do organizador José Antonio Gonsalves de Mello; prefácio de Nilo Pereira; introdução do autor. Vol. II. São Paulo: IBRASA; Brasília: INL, 1979, p. 258.
[34] Idem. Do íntimo sentido de um grande vôo (artigo originalmente publicado no Diário de Pernambuco a 03 de fevereiro de 1926). In Idem. Tempo de aprendiz: artigos publicados em jornais na adolescência e primeira mocidade do autor: 1918-1926. Nota do organizador José Antonio Gonsalves de Mello; prefácio de Nilo Pereira; introdução do autor. Vol. II. São Paulo: IBRASA; Brasília: INL, 1979, p. 262.
[35] Idem. Prefácio do autor à 2ª edição. In Idem. . Região e Tradição. 2ª ed. Rio de Janeiro: Gráfica Record Editora, 1968, p. 43.
[36] SARDINHA, António. Ao princípio era o Verbo. 2ª ed. Lisboa: Editorial Restauração, 1959, p. 10.
[37] Idem. Ao ritmo da ampulheta. 1ª ed. Lisboa: Lumen, 1925, p. XXV. Grifos em itálico no original.
[38] SARDINHA, António. À lareira de Castela, cit., pp. 12-13.
[39] FREYRE, Gilberto. Do íntimo sentido de um grande vôo (artigo originalmente publicado noDiário de Pernambuco a 03 de fevereiro de 1926). In Idem. Tempo de aprendiz: artigos publicados em jornais na adolescência e primeira mocidade do autor: 1918-1926. Nota do organizador José Antonio Gonsalves de Mello; prefácio de Nilo Pereira; introdução do autor. Vol. II. São Paulo: IBRASA; Brasília: INL, 1979, p. 263.
[40] MARTINS, Gaspar Silveira. Aparte a José de Alencar, na sessão da Câmara Geral do Império de 02 de junho de 1875. In ALENCAR, José de. Discursos parlamentares de José de Alencar. Obra comemorativa do centenário de morte de José de Alencar. Apresentação de Marco Maciel. Introdução de Rachel de Queiroz. Brasília: Câmara dos Deputados, 1977, p. 517.
[41] FREYRE, Gilberto. Artigo numerado 79. In Idem. Tempo de aprendiz: artigos publicados em jornais na adolescência e primeira mocidade do autor: 1918-1926. Nota do organizador José Antonio Gonsalves de Mello; prefácio de Nilo Pereira; introdução do autor. Vol. II. São Paulo: IBRASA; Brasília: INL, 1979, p. 83.
[42] REGO, José Lins do. Carta de uma geração aos Srs. Gilberto Freyre e Jackson de Figueiredo. In Era Nova, ano IV, nº 69, Paraíba, setembro de 1924.
[43] FRONTEIRAS. O Congresso Afro-Brasileiro: uma Organização Puramente Científica. InFronteiras, anno V, n. 19, Recife, novembro de 1936, p. 14.

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Comunicação apresentada a 6 de maio de 2013, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), durante a VIII Semana de Filologia na USP.

Também pode ser consultado em:

http://www.integralismo.org.br/?cont=912&ox=4.

Ou


Publicado originalmente em 30 de Setembro de 2013